São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 1995
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Participação nos lucros

Morreu o socialismo, mas o capitalismo já não é mais aquele. Mudou justamente na essência da relação que, segundo os marxistas, parecia condená-lo também à morte: a relação entre capital e trabalho.
Marx, negando e ao mesmo tempo alargando o anarquismo, via na propriedade privada o motor da desigualdade e, portanto, a semente da crise revolucionária. Os capitalistas, proprietários dos meios de produção, explorariam os trabalhadores que nada teriam senão a própria força de trabalho para vender, sem acesso ou controle sobre os resultados do processo produtivo.
Entretanto, a transformação fundamental que o capitalismo consagrou nas últimas décadas foi a incorporação do conhecimento como meio de produção e acumulação de riqueza. Mas o conhecimento e a tecnologia, ao contrário de uma máquina ou matéria-prima, só têm valor se a inovação é permanente.
No passado, a acumulação de lucros podia exigir a propriedade de máquinas, terras ou materiais estratégicos. Hoje, a dinâmica do capitalismo está na capacidade de inovar permanentemente nas formas de combinação entre máquinas, insumos e produtos. O lucro é maior onde o conhecimento e a inovação tornam-se mais dinâmicos.
O resultado dessa transformação é que a empresa de sucesso tem aversão total ao trabalhador passivo ou alheio aos interesses e resultados da organização.
Conclusão: a empresa, nesse capitalismo em transformação, precisa comprometer seus trabalhadores com a geração de lucros. O lucro, na visão marxista clássica, é furto e exploração. No capitalismo atual, ele é fruto e cooperação.
Assim podem-se entender as novas abordagens nas áreas de recursos humanos e a multiplicação de propostas de participação nos lucros. Mais que bem-vindas, elas são urgentes, autêntica condição de competitividade desde que associadas a critérios de performance da própria organização empresarial.
A participação nos lucros não é uma concessão forçada se resultar de autêntica participação no processo produtivo. O sistema empresarial, em cada unidade e no seu conjunto, assume cada vez mais a forma de redes flexíveis. A eficiência e a lucratividade dependem do acesso, em cada um dos seus nós, ao fruto de um esforço permanentemente coletivo e individual.

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