São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 1995
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Carlota Joaquina; Vanguarda, nazismo e horror; Alemão ou português?; Paz na língua; Invasão silenciosa; Mulher espancada; Vírus pelos poros; Metrô 'popular'; Carro importado; Carta do suicida

Carlota Joaquina
"Brilhante a coluna de Antonio Callado sobre Carlota Joaquina, publicada em 18/02. Perfeita análise sobre o filme e o período histórico que vivemos quando a corte portuguesa esteve por aqui. Só mesmo alguém do quilate de Antonio Callado teria coragem de dizer o que disse. É a pura verdade."
Moacyr Deriquem (São Paulo, SP)

Vanguarda, nazismo e horror
"A certa altura de suas divagações sobre o filme 'Arquitetura da Destruição' (22/02), Marcelo Coelho afirmou: 'Aquilo que horrorizava os artistas de vanguarda na década de 20 era precisamente... o que horrorizava os nazistas'. Não se pode confundir assim todas as tendências estéticas de Weimar, nem amalgamar tantos grupos e individualidades artísticas. Raros foram os expressionistas —por princípio, antiautoritários— que aderiram à estética nacional-socialista, na qual belo era o forte, o gigante, o guerreiro; e bela, a mulher sadia, capaz de gerar soldados e camponeses 'de raça pura'. Os valores nazistas (a ditadura, a guerra, o anti-semitismo) horrorizavam —e muito— a maior parte dos artistas de vanguarda, que tiveram que exilar-se ou converter-se, sofrendo todo tipo de boicote, censura e destruição."
Luiz Nazário (São Paulo, SP)

Alemão ou português?
"Foi grande o meu espanto ao ler, no suplemento Mais! do último domingo, uma resenha do livro 'De Volta aos Textos de Freud'. A tradução da obra é de minha autoria e eu sabia que ela ainda não havia sido lançada. O sr. Paulo César de Sousa ainda afirma, sem rodeios, ter consultado a própria autora do livro e que esta lhe pedira para aguardar a publicação do livro no Brasil, o que sem dúvida ocorrerá muito em breve. Mas ele se precipitou. Já temos tantas dificuldades para a veiculação da literatura de boa qualidade e quando conseguimos realizar algo louvável, como a tradução para a língua portuguesa de uma obra tão importante, ele menospreza a iniciativa brasileira e decide promover a edição original alemã, a que os leitores dificilmente terão acesso."
Inês Antonia Lohbauer (São Paulo, SP)

Paz na língua
"FHC disse no Painel de 24/02 que a não-manutenção da paz na América Latina é uma das maiores desvantagens dos latino-americanos em relação ao mundo. É verdade, mas é bom falar da maior vantagem: a identidade linguística, inclusive para promover a paz. Muito ao contrário da União Européia, com 11 idiomas."
José Domingos de Brito, do Centro de Documentação do Parlamento Latino-Americano (São Paulo, SP)

Invasão silenciosa
"Extraordinariamente verdadeiro o artigo de Janer Cristaldo sobre a invasão silenciosa dos supostos missionários na Amazônia. Fui juíza numa comarca do interior do Amazonas, cujo padre, que também se intitulava 'caçador de borboletas', embrenhava-se meses seguidos na floresta, a título de caçá-las. Tempos depois, foi preso pelo 1º BIS (Batalhão de Infantaria na Selva) e desmascarado: era simplesmente um geólogo estrangeiro, travestido de missionário, pesquisando na surdina nossas riquezas minerais."
Alvarina Miranda de Almeida, conselheira da Féderation Internationale des Femmes des Carrières Juridiques (Manaus, AM)

"O artigo de Janer Cristaldo (Mais!, 12/02) é a defesa mais idiota da nossa civilização autofágica e predadora contra os ianomamis."
Fernando Olinto Henriques Fernandes, médico da Medecins Sans Frontières (Rio de Janeiro, RJ)

"Discordo do repúdio do Conselho Indigenista Missionário em relação ao artigo realista a favor dos brasileiros que vivem na floresta, feito pelo sr. Janer Cristaldo. Este senhor não é remunerado para confinar brasileiros em regiões ínvias da Amazônia. Este senhor luta pela cidadania e pela soberania nacional."
Maria Iracema Pedrosa, presidente da Associação Brasileira das Mulheres de Carreira Jurídica - Comissão do Amazonas (Manaus, AM)

Mulher espancada
"Eufórica fiquei eu ao deparar com a coluna de 23/02 de Gilberto Dimenstein. Como diretora de uma instituição que trabalha com mulheres vítimas de violência doméstica, tenho me deparado com o menosprezo que a sociedade civil tem demonstrado por esse problema. Por alguma razão, o tema da mulher espancada não é tão comovente quanto o da criança abandonada. O fato é que, enquanto outros temas mobilizam a simpatia da população, este provoca apenas mal-estar e afastamento, o que redunda em verbas fartamente destinadas para uns e recusadas para outros."
Malvina E. Muszkat, diretora-presidente da Organização Pró-Mulher de São Paulo (São Paulo, SP)

Vírus pelos poros
"O vírus da Aids (HIV) mede 0,1 mícron. Nos EUA, Malcolm Potts, especialista em Aids, fez testes com luvas cirúrgicas e preservativos ali fabricados e verificou que ambos têm poros de até 5 micra. Portanto, o HIV é 50 vezes menor do que tais poros, resultando em cerca de 20% de falhas. Em vez de atirar pedras em dom Lucas Moreira Neves (Painel do Leitor, 20/02), o antropólogo e presidente do Centro Bahiano Anti-Aids, Luiz Mott, deveria ouvir aquele bispo e tratar da sua própria proteção absoluta, não com a camisinha —cujo uso preconiza sem conhecer bem—, mas sim com a obediência ao sexto mandamento —que conhece bem, mas faz crer que não o observa."
José Araújo de Oliveira Santos, professor assistente do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) (São Paulo, SP)

Metrô 'popular'
"A única maneira de aliviar o trânsito de superfície em São Paulo seria a instalação de uma malha metroviária extensiva aos bairros mais populosos. Basta que o novo governo estadual faça uma concorrência internacional e deixe a empresa eleita explorar o sistema por prazo determinado."
Arlindo Cordenunzzi (São Paulo, SP)

Carro importado
"O governo FHC deixou cair a máscara. A cara desse governo começa a aparecer por inteiro. O caso da importação de automóveis é definitivo e claro. O aumento da alíquota de 20% para 32% determinou uma mudança de 180 graus na política econômica e demonstrou a inteira falta de linha de um governo titubeante. Bastou que em dois meses surgisse um déficit de US$ 1,5 bilhão no balanço comercial para que o governo mudasse sua política, atendendo a pedido de algumas montadoras interessadas em eliminar a concorrência estrangeira a seus automóveis, atuais carroças melhoradas. E o lamentável é que, nos primeiros 15 dias de fevereiro, a importação já apresenta superávit. Por que, então, esse açodamento para mudar a alíquota e abandonar a política inteligente da importação de automóveis para concorrer com os preços internos? Por que atender com essa pressa ao sorriso colgate da ministra Dorothéa Werneck? O que se esconde por trás dessa guinada de 180 graus? A reação corporativa e o clientelismo estão pondo 'as manguinhas de fora' em um governo que se apresentava como reformista e independente."
Tito Livio Fleury Martins (São Paulo, SP)

Carta do suicida
"Chamo sua atenção para a publicação, em Cotidiano, da carta do sr. Sebastião Raimundo de Faria dirigida à sua esposa, sra. Joy Neuber de Faria. No meu entendimento, tal carta não deveria ter sido publicada pelos seguintes motivos: não se tratava de carta aberta ou pública; não havia autorização ou menção à autorização da sra. Joy à publicação da carta; o conteúdo da carta expõe e deixa sem defesa tanto a sra. Joy como terceiros; ao publicá-la, a Folha passa a participar do jogo de manipulação e agressão do suicida."
Paulo de Tarso Gomes (Campinas, SP)

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