São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 1995
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FABIO, O TODO BOM

HELOISA HELVECIA

O megamodelo brasileiro Fabio Ghirardelli, 26 anos, está tons e tons acima dos tipos "esportivos", "casuais", "rústicos", "clássicos" ou "sensuais" que povoam a moda. No mercadão dos adjetivos facilitados, ele só veste superlativos.
Bom de cara, tem cara de homem. Sobre o pescoço grosso fincado no tórax de cem centímetros, o rosto de pele impecável é moldado a machado: queixão, ossos salientes e muita carne nos lábios de traçado másculo, que sempre mostram risadas de dentes grandes, brancos, luminosos como os olhos verdes.
Se mexe as sobrancelhas, aparecem na testa três marcas paralelas de expressão. É a careta que os fotógrafos devem achar mais irresistível, porque se repete nas fotos publicadas pelos continentes. Tamanha evocação de Paul Newman, Marlon Brando e Jean-Paul Belmondo num só homem foi devidamente endeusada este mês, durante o olimpiano lançamento da coleção do estilista Jorge Kaufmann (leia nesta página).
Fabio abriu o desfile numa aparição feérica, enfiado num modelo verde limão, a la cafajeste californiano. Despertou fantasias e frêmitos entre o público de descolados. O centro de moda virou platéia de Clube das Mulheres —só que mista.
Foi seu primeiro desfile em São Paulo. O top acaba de deixar seu apartamento em Saint-Germain, Paris, vitorioso e de visto vencido. Fica no Brasil até junho, animado com o real, a montanha de convites e os cachês que variam de R$ 3.000 (um passeio na passarela) a R$ 20 mil (catálogos e fotos, dependendo da veiculação, do grau de exposição da beleza).
"Não esperava esse barulho. Coincidiu de eu estar à vontade, louco para mostrar o que aprendi, e de o desfile e as roupas serem o máximo", diz o deslumbrante (como alertou Erika Palomino) e não-deslumbrado Fabio.
O efeito Fabio surpreendeu também o estilista Jorge Kaufmann. "Conhecia ele de revistas. Sabia que tinha carisma. Outros são até mais bonitos, mas ele tem uma simpatia nata. É um top que tem humildade. Sentiu-se valorizado com minha roupa. Só pedi que transmitisse alegria. Deu no que deu."
Fabio adorou a roupa como "espetáculo", mas não usaria verde limão fora da passarela. Gosta de cor discreta, roupa básica, confortável. De tudo que viu de novo por aqui, gostou especialmente das peças de Kaufmann e da Special K. Achou que a confecção Salve Rainha faz "roupa para bicha".
Pego de surpresa, ele vai estar vestindo algo como calça de abrigo, camiseta da Elite (agência que cuida dele hoje) e boné virado. "Não tenho cara de modelo. Modelo gosta de dar pinta, tem aquela coisa de não se aproxime. Eu sei que é só um papel. Meu pai me ensinou simplicidade."
Simples, parece o jogador de vôlei que seria, caso um amigo do time lá de Ribeirão Preto não aparecesse com a história de fazer curso de modelo para ganhar uma bolsa.

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