São Paulo, segunda-feira, 27 de fevereiro de 1995
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FHC diz que a crise no México 'afetou a todos'

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Em entrevista publicada ontem pelo jornal chileno "El Mercurio", Fernando Henrique Cardoso disse que a crise mexicana afetou o Brasil e os demais países latino-americanos, ao demonstrar que "há um calcanhar de aquiles no mundo financeiro internacional".
A declaração do presidente brasileiro corresponde a uma inflexão na retórica oficial, já que até agora o governo enfatizava a inexistência de qualquer paralelo entre os modelos brasileiro e mexicano.
Segundo FHC, o chamado "efeito tequila" também se fez sentir entre países emergentes fora da América Latina e em mercados dos países industrializados.
"Percebemos que o dinheiro especulativo se locomove com rapidez, por simples ordem de computador, e que ele pode fragilizar economias que são fortes", disse.
Propôs a criação de mecanismos de defesa contra esses fluxos de capital, que poderiam tomar a forma de "acordos entre nossos bancos centrais". Ainda a seu ver, o exemplo do México oferece como lição a necessidade de se promover o crescimento real das economias e impedir que as importações não superem as exportações na balança comercial.
O México foi, segundo o presidente brasileiro, "uma advertência importante para todos", o que ainda, de forma indireta, também demonstrou o "caráter volátil" do Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte).
A propósito, FHC recomendou ao Chile precauções em sua aproximação com aquela área também integrada pelos Estados Unidos e Canadá e insistiu no fato de, por uma questão de afinidades regionais, o caminho chileno estar bem mais numa aproximação com o Mercosul (Mercado Comum do Sul), integrado pelo Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
O Chile deve abrir em março próximo negociações com os Estados Unidos, baseadas numa agenda que prevê uma forma de associação com o Nafta, cujos contornos ainda serão definidos.
A entrevista do presidente brasileiro ao "El Mercurio" teve como pretexto a viagem que ele fará a partir de quarta-feira a Santiago, cidade em que morou, exilado, entre 1964 e 1969.
No ano passado, as transações entre Brasil e Chile totalizaram R$ 1,02 bilhão. A balança bilateral foi favorável ao Brasil, com um saldo de R$ 324,7 milhões.
FHC disse ao "El Mercurio" que procurará discutir pessoalmente com os presidentes dos Estados Unidos, Argentina e Chile fórmulas que permitam uma solução ao conflito entre o Peru e o Equador.
Não forneceu nenhuma data ou agenda detalhada para esses encontros com os dirigentes dos países que firmaram o Acordo do Rio (1942), que permitiu a paz àqueles dois países latino-americanos, quando de um primeiro confronto.
Essa guerra, disse Fernando Henrique Cardoso, "é um sinal que devemos eliminar da América do Sul, onde devemos manter uma zona de paz". Por isso, concluiu, "precisamos pôr um freio a esse tipo de conflito."

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