São Paulo, segunda-feira, 27 de fevereiro de 1995
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Trabalho possui leis próprias

ANDRÉ LOZANO
DA REPORTAGEM LOCAL

As prostitutas que desejam mudar seu ponto para a Liberdade precisam da aprovação das veteranas do bairro.
"A gente só aceita a nova garota com referências e se ela mostrar que não é saca. Aí ela ganha um ponto e não poderá invadir a rua de outra. Aqui é assim: cada macaco no seu galho", disse Cibelle.
Segundo ela, se uma prostituta não respeita as leis do trabalho na rua, as outras "montam" nela (agridem fisicamente).
Karen disse que um modo de uma prostituta conseguir o ponto de outra é denunciá-la por algum motivo à polícia.
"Comigo aconteceu isso. Uma rival disse que eu estava traficando. Os policiais vieram e me levaram para a delegacia. Como era mentira e não encontraram nada me liberaram. Mas se eu realmente fosse traficante, ficaria presa e a outra pegava meu lugar", contou.

Namorados
Muitas prostitutas têm namorados que sabem o que fazem e, inclusive, vão buscá-las no trabalho. Algumas sonham com o cliente que se tornará marido.
A gaúcha Márcia, 17, contou que namora há duas semanas e que o namorado vai apanhá-la, pelo menos, três vezes por semana em seu ponto, na rua dos Estudantes, na Liberdade.
"Como ele me conheceu nessa vida, consegue entender o meu trabalho. Ele não me explora e nós pretendemos morar juntos mais tarde", afirmou a garota, que está na rua desde os 11 anos.
"Tenho minha mulher que me espera comportada em casa", afirmou Cibelle. Já Karen contou que há um ano chegou a namorar um japonês que a pediu em casamento. Ela disse que não aceitou porque "ele era jogo duro" (feio).
Elas dizem que algumas garotas não perdem a expectativa de encontrar um marido, entre os clientes. "Tenho uma colega que diz estar na rua só com esse objetivo", contou Márcia.
A maior reclamação delas é sobre a dificuldade de alugar um apartamento. "Nós não temos renda declarada e nunca acharemos um fiador. Somos obrigadas a morar em hotel e isso nos leva mais de R$ 1.300 por mês", afirmou Karen, que tem o segundo grau completo e especialização em contabilidade.

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