São Paulo, segunda-feira, 27 de fevereiro de 1995
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Gringa deslumbrada se apaixona por ritmista

MARCELO PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Relax, baby, relax. Não se sinta culpado por parar de trabalhar no Carnaval, nem acredite que o Brasil não vai para a frente por culpa dos feriados.
Estou aqui há, sei lá, seis meses? E o que já vi de feriado... É o dia do presidente, do Luther King, Até o peru tem seu dia. E, por um cálculo bem manipulado, caem todos na segunda-feira, prolongando o fim-de-semana. E são ricos como o diabo.
Aliás, baby, você deveria se orgulhar do Carnaval do seu país. Neste mês, foi capa de quase todos os suplementos de turismo de quase todos os jornais americanos. E a unanimidade: dentre os mais famosos carnavais, Nova Orleans, Veneza e Rio de Janeiro, o da "The Wonderful City" é o mais sedutor.
E cá estou, brasileiro acidental, tendo de responder o inquérito diário: "como é o Carnaval no 'Brazil'?", "ouvi dizer que todo o país festeja sem parar", "ouvi dizer que as pessoas fazem amor nas ruas", "é verdade que as mulheres se vestem de homem, e os homens de mulher?"
É evidente que realimentei todos os comentários dizendo que, no Carnaval, há um pacto entre os casais, que se separam por cinco dias, fazem o que der na telha, e se reúnem como se nada tivesse acontecido. Evidentemente, vou ter que me esconder e esconder minha mulher por cinco dias, para sustentar a mentira e evitar gringos assanhados.

Uma fulana do jornal daqui escreve sobre o Carnaval no Rio. Diz ela que "apesar da imagem negativa que a imprensa faz, o Carnaval na cidade é seguro para turistas". Em uma grande lição de jornalismo, consultou apenas uma fonte: um tal de Major Paulo Fontes que reportou que os crimes contra turistas caíram 70% desde a criação da "Rio Tourist Police".
Coisas que chamaram a atenção da gringa deslumbrada: a hospitalidade do carioca, o bom humor, o jeito de abraçar, o Leme, a falta de poluição ("porque 60% dos carros são movidos a álcool"), o churrasco de Zebu, a tanga que consagrou a "Girl from Ipanema", o futebol de Romário e "Bebito", as turmalinas e a feijoada do Copa. Disse ainda que as drogas ("the D word") estão restritas às favelas.
Minha teoria é que alguém de alguma bateria nota dez fez esta gringa chamada Nancy Muenker, de Denver, ver estrelas, e perder a razão. Deveriam erguer uma estátua para ele.

MARCELO RUBENS PAIVA está em San Francisco (EUA) como bolsista da Knight Fellowship, na Universidade de Stanford.

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