São Paulo, segunda-feira, 27 de fevereiro de 1995 |
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Freddy Krueger completa dez anos de terror no melhor filme da série
MARCEL PLASSE
Direção: Wes Craven Elenco: Heather Lagenkamp, Robert Englund, John Saxon Onde: Marabá, Metrópole, Center Iguatemi 2, Morumbi 2 O mesmo elenco, a mesma equipe de produção e o mesmo diretor. Ao prestar homenagem aos dez anos de "A Hora do Pesadelo", "O Novo Pesadelo - O Retorno de Freddy" surge como o melhor filme da série, que rendeu sete longas-metragens e mais merchandising do que qualquer outra criação do cinema de horror. "O Novo Pesadelo" é muito superior à rotineira sucessão de sustos, pesadelos, adolescentes insones, cafeína e sangue que costuma acompanhar os já patéticos gritos de "Freddy!". É uma delícia para fãs do horror, e, ao mesmo tempo, um filme que pode ser apreciado por quem não suporta os clichês do gênero. Wes Craven, que tinha rompido com o estúdio New Line por ocasião de "A Hora do Pesadelo 3", quando seu roteiro foi mexido pelo diretor Chuck Russell, pediu controle total para voltar a Freddy Krueger. Fez uma fita quase sem adolescentes e com um roteiro ousado, localizando a ação na pré-produção de um novo filme sobre o monstro de Elm Street. Embora o uso da metalinguagem não seja nenhuma novidade, a maneira fluente como o veterano diretor combina ficção, realidade e uma teia de referências, que vai de "João e Maria" a Pirandello, surpreende. O roteiro aborda a frustração de Heather Lagenkamp, a atriz que fez Nancy na primeira e na terceira parte de "A Hora do Pesadelo" e passou os últimos dez anos sem uma proposta decente para outros papéis —ao contrário de Johnny Depp e Patricia Arquette, seus vizinhos na imaginária Elm Street. Por sua ligação com Freddy, além de frequentar "talk shows" sobre filmes de horror, Heather virou alvo de um fã-clube dedicado, que até hoje interrompe seu sono com imitações da voz de Freddy Krueger ao telefone. Foi essa confissão que inspirou Craven a imaginar o que aconteceria se Freddy abandonasse os rolos de celulóide para dar pesadelos aos atores e à equipe técnica de seus filmes. O conceito possibilitou cenas de auto-referência antológicas. É o caso da aparição do ator Robert Englund, comportando-se, sem a maquiagem de Freddy, com uma timidez cativante, ao perguntar a Heather: "Sonhos comigo?". O próprio Craven surge em cena com uma ansiedade anfetamínica, virando noites para capturar no roteiro do filme os pesadelos que o afligem. E tudo o que ele escreve acaba virando "realidade". Heather Lagenkamp é a maior vítima, porque matou Freddy no primeiro episódio. Os telefonemas e os pesadelos antecedem o convite para ela voltar a interpretar Nancy no sétimo filme. Depois de dez anos, a atriz mudou de opinião sobre o horror. Com um filho pequeno, ela procura se dissociar do gênero. Seu filho nunca a viu num filme, mas tem pesadelos com Freddy. Psicólogos, que avaliam o comportamento da criança, introduzem a discussão sobre a influência dos filmes de terror no comportamento infantil. Mais elaborada do que a metalinguagem mais evidente do filme, a resposta que Craven dá a essa questão demonstra uma inteligência incomum ao gênero. Texto Anterior: Pára-quedas salva policial dos clichês Índice |
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