São Paulo, quarta-feira, 1 de março de 1995
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Carnaval de erros ameça favoritas

FERNANDO MOLICA
DA SUCURSAL DO RIO

Mocidade Independente de Padre Miguel e Portela podem ser as grandes beneficiadas pelos erros de algumas das principais concorrentes ao título do Carnaval de 95.
O carnavalesco da Mangueira, Ilvamar Magalhães, bateu um recorde: por três anos seguidos, elaborou carros alegóricos tão altos, que acabaram presos na torre usada por fotógrafos e cinegrafistas.
Como nos outros anos, a escola ficou entalada enquanto empurradores do carro "Atlântico Resplandescente" resolviam o problema. A solução veio em menos de dois minutos, mas a escola pode perder pontos no quesito evolução.
O mesmo pode ocorrer com a Viradouro. No fim do desfile, a dificuldade em se empurrar alguns carros abriu claros na escola. Desesperado, Joãosinho Trinta ajudou a empurrar algumas alegorias.
Também ontem, outra favorita, a Imperatriz Leopoldinense, teve problema com o carro que ilustrava a chegada de camelos ao Brasil. Ele quebrou na entrada da avenida e atrapalhou algumas alas.
Na apresentação iniciada domingo, o Salgueiro desfilou com uma comissão de frente em que alguns integrantes calçavam só um pé das botas da fantasia.
Erros dos adversários à parte, a Mocidade fez a apresentação mais aplaudida da segunda noite. O nome do bairro da escola, Padre Miguel, serviu de pretexto para o carnavalesco Renato Lage elaborar um enredo sobre religiões.
Ele incluiu um carro que criticava igrejas evangélicas: um pastor cheio de dólares aparecia diante de aparelhos de TV. Abaixo, quatro mãos seguravam sacos destinados a recolher contribuições dos fiéis.
A Mocidade empolgou o público apoiada na performance da bateria, no bom desenvolvimento do enredo e na qualidade das alegorias, muitas com efeitos especiais.
A Imperatriz tentou repetir a fórmula de outros carnavais: um desfile luxuoso, fantasias ricas e pesadas e um enredo criativo. Desta vez, sobre a frustrada tentativa de se introduzir camelos no Ceará.
A principal arma da escola é fazer um desfile sem erros que impliquem em perda de pontos. Foi assim levou o título em 94. A quebra do carro alegórico pode impedir um novo sucesso da receita.
Já a Mangueira, além do incidente com o carro, errou ao permitir que a evolução da comissão de frente atrasasse a apresentação: no final, a escola ensaiou uma corrida para não estourar o tempo. Apesar disso, deve conseguir boa colocação. Com bonitas alegorias e fantasias, ilustrou com criatividade o enredo sobre Fernando de Noronha.
Sem empolgar, Joãsinho apresentou seus recursos tradicionais na Viradouro: carros imensos entupidos de componentes, muitas alegorias de mão e um enredo que não passa de pretexto para justificar uma idéia (mais uma vez, a de que algo prenuncia a chegada de um novo tempo para o Brasil).
Ao contrário do que ocorria nos desfiles de Joãosinho na Beija-Flor, a Viradouro trouxe alegorias mal acabadas, que ameaçavam quebrar durante sua apresentação.
A Vila Isabel desenvolveu com luxo o enredo sobre o dinheiro. O desfile não empolgou, mas a escola não cometeu erros, o que a deixa na luta pelos primeiros lugares.
Com a Estácio de Sá ocorreu o contrário: apoiada no enredo sobre o centenário do Flamengo, conseguiu imediata empatia com os torcedores do clube, mas faltou desenvolver melhor o tema. Apesar de acertos como a coreografia da comissão de frente, tropeçou em alguns erros e no samba, que de bom tinha só os dois refrões.
O carnavalesco Mario Borriello escondeu os ídolos Zico, Júnior, Adílio, Andrade e Nunes em um carro fechado e sem iluminação. Mesmo assim, a escola conseguiu alguns gritos de "já ganhou", vindos na esteira dos de "Mengo!".
Caprichosos de Pilares e Unidos da Ponte fizeram desfiles leves e simpáticos: devem permanecer no grupo especial. A tarefa deve ser facilitada pelo fraco desempenho da São Clemente e da Vila Rica.

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Sobre o desfile no Rio nas págs. 4 a 6

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