São Paulo, quarta-feira, 1 de março de 1995
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Canal de documentários faz surpreendente sucesso

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma antiga anedota diz que o besouro desconhece sua absoluta insuficiência aerodinâmica e é por isso mesmo que ele voa. Guardadas as proporções, foi o que ocorreu com o sucesso do TDC (The Discovery Channel) no mercado mundial de TV a cabo.
Nenhuma pesquisa demonstrava a viabilidade comercial de um canal com uma programação exclusiva de documentários. Lançado nos Estados Unidos em junho de 1985, o TDC saltou em um ano de 156 mil para 7 milhões de assinantes.
Em 1989, começava a transmitir para a Europa e desde setembro do ano passado para a América Latina. Cobre hoje 60 países nos cinco continentes e possui algo em torno de 76 milhões de telespectadores.
O TDC é captado em 33 cidades no Brasil pelos assinantes da TVA e das distribuidoras ligadas à Net-Brasil (Net e Multicanal, para os paulistanos).
Já é um público que justifica para este ano a tradução de 35% dos programas em português, conforme planos da DCI, empresa proprietária do canal.
A grade de programação do Discovery possui de 33 a 36 documentários transmitidos 24 horas por dia. Cerca de 20% são comprados —após aprovação do roteiro— de produtoras norte-americanas. Os demais são produzidos em outros países. No ano passado, o TCD lucrou US$ 100 milhões.
Nos Estados Unidos, único mercado com pesquisas sistemáticas em TV por assinatura, o Discovery é o quinto em audiência no horário nobre, à frente da MTV e da CNN. Seu público é mais masculino (60%) e o telespectador tem de 25 a 50 anos.
Como canal aberto, o Discovery não seria economicamente viável em nenhuma cidade do mundo. Sua viabilidade é dada pela soma das ínfimas minorias de público em cada cidade em que é captado.
Em que pese essa segmentação, é um canal que precisa utilizar uma linguagem própria à cultura de massas. Mas ele o faz de forma inteligente.
Alguns exemplos. Há dois meses, estreou uma série sobre os aviões utilizados pela Alemanha na última Guerra Mundial. Manteve-se na descrição técnica do aparelho. Entrevistou pilotos alemães e aliados. Não se lançou na retórica do óbvio, que foi a monstruosidade do nazismo.
Sobre o emprego dos porta-aviões na Coréia, e é um segundo exemplo, situou bem o conflito no quadro da Guerra Fria e fez simplificações do tipo "heróis americanos contra vilões comunistas".
Seus programas de história e arqueologia têm boa edição de imagens e são rigorosos em suas interpretações. Aborda a Revolução de 1789 na França sem tomar o partido dos republicanos jacobinos ou dos realistas ligados a Luís 16.
No campo da astronomia, astronáutica e da vulgarização científica, é independente e não um simples apêndice engajado na propaganda das instituições norte-americanas do ramo. Em novembro passado, levou ao ar uma antológica série sobre os erros da Nasa.
O The Discovery Channel só tem um grande defeito: o número excessivo de interrupções (a cada dez minutos) para a entrada de comerciais. O telespectador brasileiro perde a paciência pela demonstração de máquinas de fazer ginástica e polidores de automóvel.

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