São Paulo, quarta-feira, 1 de março de 1995
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Benda carrega tradição de dois séculos

IRINEU FRANCO PERPÉTUO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Christian Benda é o representante no século 20 de uma família de músicos boêmios do século 18. Nascido em Salvador, o violoncelista e regente, aluno de Pierre Fournier, já tocou com Lazar Berman, Josef Suk e Cristina Ortiz, entre outros.
Como regente convidado da Orquestra de Câmara de Praga —que não tem titular e chega a se apresentar sem maestro—, Benda se apresenta no Rio de Janeiro em 3 de abril, na série de concertos da Dell'Arte. A turnê brasileira inclui São Paulo, Curitiba, Brasília, Fortaleza, Salvador e Recife.
No Rio de Janeiro, José Carlos Cocarelli é o solista do "Concerto para Piano em Dó Menor", de Mozart. Em São Paulo, o francês Michel Beroff toca o "Concerto para Piano nº 1", de Beethoven. Nas demais capitais, os solos são do próprio Benda.
No último dia 2, regeu um recital da soprano norte-americana Barbara Hendricks. Nas lojas brasileiras especializadas é possível encontrar sua gravação dos concertos para violoncelo de Carl Stamitz, da Naxos. Pelo mesmo selo, gravou os melodramas "Ariadne em Naxos", "Pigmalião" e "Medea", de seu antepassado Jiri Antonin Benda. Ainda pela Naxos, pretende registrar em 95 as suítes para orquestra de câmara e a sinfonieta de Villa-Lobos.
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista exclusiva, concedida de sua residência, em Lugano (Suíça).

Século 18
Os Benda são uma família de músicos da Boêmia desde o século 18, quando se destacaram dois irmãos compositores: Frantisek e Jiri Antonin. Jiri Antonin criou fórmulas do Classicismo vienense, como as modulações rápidas a cada dois ou três compassos. Ele também desenvolveu a forma do melodrama, que alterna música e texto falado a cada microestrutura de quatro compassos, sem canto. Em 6 de novembro deste ano, participaremos das comemorações do bicentenário da morte de Jiri Antonin, com a inauguração de um museu em sua cidade natal, Benatky.

Presente
Hoje somos cinco irmãos músicos, além de meu pai, tias e primas. Recentemente gravei, com minha irmã Denise, os dois concertos para piano de Chopin. À frente da Filarmônica de Bratislava, gravei, com meu irmão François, peças para clarineta de Nielsen, Debussy, Busoni e Rossini.

Mozart
Mozart disse que Jiri Antonin era seu Kapellmeister (mestre de capela) predileto. Ele comprou em subscrição as partituras de Jiri Antonin, que estudava em suas viagens. De meu antepassado, Mozart aproveitou as modulações rápidas, além de utilizar a estrutura do melodrama em "Zaida". No bicentenário da morte de Mozart, em 1791, fizemos um concerto comemorativo na Áustria, com meu irmão François como solista no "Concerto para Clarineta" e meu pai, Sebastian, tocando com Cristina Ortiz no "Concerto para Dois Pianos".

Brasil
Francês de nascimento, meu pai, o pianista Sebastian Benda, veio fazer uma turnê no Brasil em 1952. Ele também deveria tocar na Argentina, mas Evita Perón morreu e o clima de comoção que se instaurou impossibilitou sua ida para lá. Para ocupar o tempo, foi dar um seminário em Teresópolis —no qual conheceu minha mãe, uma das alunas do curso. Resolveu, então, se fixar em Salvador, onde eu nasci, para trabalhar na Universidade local. Em 1980, aos 19 anos —já casado— resolvi me mudar para a Europa. A formação musical no Brasil, infelizmente, é muito falha. Não dá para se especializar.

Música contemporânea
A música de Górecki, Taverner e Pãrte é uma volta ao passado. Mas é uma volta em segundo grau, que olha para a música do passado com olhos modernos. O fato é que a música contemporânea estava perdendo o contato com o público.

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