São Paulo, quarta-feira, 1 de março de 1995
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Infovia levanta dilema ético entre americanos

MARINA MORAES
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE NOVA YORK

No início desta semana o cyberspace americano celebrou mais uma novidade: o lançamento de uma campanha presidencial on line. Lamar Alexander, um político republicano de pouca expressão nacional, sentou-se diante de um laptop e disparou uma mensagem via modem anunciando que vai disputar a indicação de seu partido para uma vaga na Casa Branca.
Depois, respondeu perguntas num fórum do serviço America Online, explicando suas idéias aos infonautas interessados em política. Esse fato dá bem uma idéia do impacto que o computador está tendo na sociedade americana, o que não é uma novidade.
Ao assumir o poder, em 1992, o vice-presidente Al Gore foi o primeiro a falar com seriedade na tal supervia de informação, que um dia vai conectar domicílios, escritórios e órgãos de governo do país. Na época Gore foi taxado de tecno-nerd: suas idéias estavam fora de sintonia com as do americano médio.
Bastaram dois anos para vingar o vice-presidente. Agora, até Washington está aderindo em massa à Internet. Numa recente edição especial da "Newsweek", foi publicada uma pesquisa segundo a qual apenas 13% dos americanos já frequentaram o cyberspace. Só 2% têm o costume de passar uma hora ou mais por dia ligado a uma rede.
Mesmo assim, a idéia da Internet parece ter renovado o espírito de conquista dos americanos. E se o candidato a presidente trocou mensagens com apenas alguns milhares de eleitores em potencial, essa gente faz parte de um público essencial para qualquer político: são os formadores de opinião.
Com a velocidade de um modem de última geração, essa vanguarda tecnológica está forçando o país a se confrontar com todos os dilemas éticos e morais que o mundo informatizado vai despertar. O mais importante no momento é a questão da privacidade.
Sob a intensa barragem da mídia, que "descobriu" o computador doméstico como um aparelho essencial, milhares de americanos não querem ficar fora da onda. Prova disso é o número de modem em operação no país, que dobrou nos últimos oito meses. Ao mesmo tempo, quem já é do ramo revela preocupação com a fragilidade das redes aos ataques dos piratas.
O caso de Kevin Mitnick, que foi preso há duas semanas, deixou muita gente de cabelo em pé. É o "hacker" que invadia computadores alheios on line atrás de informações sigilosas e chegou a capturar um arquivo com o número dos cartões de crédito de 20 mil milionários da Califórnia. Não é uma situação confortável num país onde a fraude eletrônica causa bilhões de dólares anuais em prejuízo.
Além disso, a descoberta do potencial do cyberspace pelos marketeiros abre espaço para outro inconveniente. De posse de seus dados pessoais, obtidos nos arquivos das próprias redes, a qualquer momento o infonauta fica sujeito a receber um telefonema, uma mala direta ou mensagens on line sugerindo a compra de quinquilharia.
Por tudo isso o americano médio tem nas mãos um dilema. Observando a mídia, ele conclui que ficará para trás se não aderir ao mundo dos informatizados, mas também fica sabendo dos riscos a que está sujeito se abrir mão de sua privacidade para conviver com milhões de cidadãos eletrônicos.

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