São Paulo, quinta-feira, 2 de março de 1995
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Sistema de radar leva presidentes a lobby

GUSTAVO KRIEGER
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente dos EUA, Bill Clinton, participou pessoalmente do lobby para que a empresa norte-americana Raytheon fosse contratada para fornecer os equipamentos do Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia).
No mês passado, o "The New York Times" publicou reportagem segundo a qual a Raytheon foi escolhida porque sua concorrente, a Thoson (francesa) estava tentando subornar autoridades brasileiras. O Congresso pode investigar o caso.
Em julho de 1994, Clinton enviou uma carta ao então presidente do Brasil, Itamar Franco, defendendo a escolha da Raytheon.
Nesta época, a Raytheon disputava o contrato do Sivam com a empresa francesa Thomson. No dia 18 de julho de 94, a Raytheon foi escolhida por Itamar.
O contrato do Sivam é de US$ 1,4 bilhão. Além de fornecer os equipamentos, a Raytheon vai cuidar de sua instalação.
Em outubro de 94, foi a vez de Itamar usar o Sivam para fazer lobby junto ao governo dos EUA.
Itamar escreveu uma carta para Clinton, defendendo a estatal brasileira Embraer, que disputa uma concorrência para fornecimento de aviões de treinamento para as Forças Armadas dos EUA.
Na carta, Itamar lembrou a Clinton da escolha da Raytheon para fornecer os equipamentos do Sivam. A concorrência do governo americano ainda não foi julgada.
O maior problema para o lobby do governo brasileiro é que a Raytheon também disputa a concorrência do governo americano e é uma das principais adversárias da Embraer.
A empresa norte-americana incluiu em seu pacote de equipamentos oito aviões Brasília, produzidos pela Embraer. Estes aviões patrulharão a Amazônia, levando radares e sensores.
A intervenção pessoal de Clinton foi o ponto final de uma ofensiva de lobby do governo dos EUA em favor da Raytheon.
O lobista mais ativo foi o secretário de Comércio dos EUA, Ron Brown. Em junho de 94, quando o governo brasileiro estava prestes a decidir quem seria a fornecedora de equipamentos para o Sivam, Brown visitou o Brasil.
Ele se reuniu com parlamentares e integrantes do governo brasileiro, defendendo a Raytheon.
Na mesma semana, o ministro da Indústria e Comércio da França, Gérard Longuet, visitou o país fazendo lobby para a Thomson.
O governo dos EUA também auxiliou a Raytheon a apresentar a melhor proposta de financiamento do Sivam.
Como o governo brasileiro não tinha recursos para financiar a implantação do Sivam, ele exigiu que as empresas interessadas no contrato conseguissem financiamento externo para a operação.
As taxas de juros dos empréstimos negociados pela Raytheon junto aos bancos americanos eram mais baixas que as conseguidas pela Thomson na Europa.

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