São Paulo, quinta-feira, 2 de março de 1995
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Ação chega ao fim sem queda na violência

SERGIO TORRES; FERNANDO MOLICA
DA SUCURSAL DO RIO

Nem queda acentuada dos números da violência, nem o fim da guerras entre traficantes, nem a interrupção da venda de drogas. Os principais objetivos da Operação Rio, que está completando quatro meses, não foram alcançados.
A prorrogação do convênio que deu às Forças Armadas autorização para ocupar favelas expira hoje. Ele vinha sendo renovado à medida que se aproximava sua data final. O convênio original foi assinado em 31 de outubro de 94 pelos governos federal e estadual.
O governador do Rio, Marcello Alencar (PSDB), disse ontem que "os objetivos foram alcançados". Segundo Alencar, a Operação Rio "devolveu ao povo a sensação de que o Estado não é ausente".
O combate ao crime organizado era a meta do comando da Operação Rio. Quatro meses depois, os resultados são inexpressivos. O tráfico continua atuante, as brigas entre quadrilhas criminosas resultam em mortes diárias e os casos de sequestro aumentaram.
Em setembro passado, duas pessoas foram sequestradas no Estado, revela estatística da Polícia Civil. Em outubro, 11. Em novembro, com militares nas ruas, 23. Este ano, há 14 casos oficiais de sequestro, mas a polícia trabalha com números subestimados. Para cada sequestro notificado, há pelo menos um outro em que a família não avisa a polícia.
Na morro Dona Marta, em Botafogo (zona sul), quadrilhas rivais de traficantes trocam tiros praticamente todos os dias, sem que a PM intervenha. Assaltos a bancos também são crimes comuns. De 1º de janeiro a 15 de fevereiro deste ano, houve 67 ataques a bancos, contra 12 em dezembro, quando se intensificaram as rondas bancárias após os 46 casos de novembro, os 44 de outubro e os 41 de setembro.
A Secretaria da Segurança Pública do Estado não fornece os recentes números de homicídios, mas um levantamento extra-oficial da Polícia Civil indica que a média diária de 11 casos em 1994 tem se mantido desde o início do ano.
Pelo menos 30% dessas mortes são creditadas às disputas pelo controle das "bocas" de cocaína e maconha das favelas do Rio. No dia 21, foram mortas 27 pessoas no Rio. A ocupação de favelas não impediu a volta do tráfico horas após os militares saírem da área.
A polícia registra uma queda no número de carros roubados e furtados a partir da Operação. Em outubro —mês anterior à vigência do convênio— ladrões levaram 4.600 carros. Em janeiro, houve 3.103 casos registrados pela Delegacia de Roubos e Furtos de Veículos Automotores da Polícia Civil.
A Secretaria da Segurança informou que durante a Operação Rio foram apreendidos 37.167 embrulhos pequenos (papelotes e sacolés) de cocaína, 13.032 trouxinhas de maconha, 110 kg de cocaína solta e 209 kg de maconha. A Polícia e Forças Armadas apreenderam um total de 428 armas desde o início da Operação.
No período, 221 supostos criminosos foram presos, nenhum de importância na estrutura do crime organizado. Muitos foram soltos após um mês depois sem que nada contra eles tivesse sido apurado.
Houve também acusações de maus-tratos contra moradores dos morros do Borel e dos que compõem o Complexo do Alemão (todos na zona norte do Rio).
O Inquérito Policial-Militar instaurado pelo Exército concluiu que as acusações de tortura no Borel não tinham procedência: o caso está sendo analisado pela Procuradoria da Justiça Militar. O Comando Militar do Leste informou que não vai fazer nenhum comentário sobre as conclusões da investigação.

Colaborou FERNANDO MOLICA, da Sucursal do Rio.

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