São Paulo, domingo, 5 de março de 1995
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Missão é descolar o Brasil da Argentina

DA "AGÊNCIA DINHEIRO VIVO"

Inflação aumentará um pouco e, por enquanto, única defesa da política cambial são as taxas de juros altas
Se o Banco Central não patrocinar uma alta geral dos juros, os CDBs não devem repetir em março o juro real líquido de 2% pago em fevereiro. O Departamento de Economia da agência "Dinheiro Vivo" prevê um forte repique inflacionário este mês, fora, por enquanto, das cogitações do BC.
Ele manteve praticamente estável o custo efetivo do dinheiro. Dos 3,25% em fevereiro, o over projeta 3,21% em março. Frente à expectativa DV para o IPC da Fipe —1,73% este mês—, o juro real do over será de 1,45%, contra 2,22% do mês passado. A previsão é de que, se as taxas não forem revistas para cima, o ganho real líquido do CDB irá cair para 1,25%.
O mercado está dividido sobre a rota da inflação e dos juros. Grande parte das instituições aposta em inflação média de 1,5% em março, com repique mais vigoroso apenas em abril. Mas há gente de peso defendendo a hipótese de que o IPC da Fipe este mês fique muito perto dos 2% e o IPC-r, de 1,8%.
O momento não autoriza o BC a baixar a guarda do juro real. Ele ataca vários problemas: 1) o aquecimento do consumo; 2) a fuga de recursos dos ativos financeiros; 3) o desequilíbrio da balança comercial; e 4) remessas para fora.
A trajetória do juro interno está muito associada à crise argentina. A expectativa é de que não há como evitar uma alta se os problemas portenhos se agravarem. E existem fortes indícios de que eles irão se tornar ainda mais sérios daqui para a frente.
A dúvida mais angustiante do mercado hoje não é "se", mas "quando" a Argentina irá estourar. A tensão ficou insuportável esta semana em Buenos Aires. Os juros dispararam e a bolsa desmoronou. Foi o capítulo mais dramático de um processo que parece não ter volta.
A crise argentina é explícita, a iliquidez geral (atinge bancos e empresas de porte), compromete a reeleição de Menem, mas a explosão, como sempre, é cambial: ocorrerá no dia em que não for mais possível sustentar a paridade do peso frente ao dólar.
Não foi por mera coincidência que FHC, em conversa reservada com jornalistas no Chile, admitiu a necessidade de revisão da política cambial brasileira. Ele defendeu a definição oficial de uma banda fixa de flutuação da taxa de câmbio. Na proposta, FHC repisa a estratégia que sempre deu certo desde os seus tempos de Fazenda: assumir publicamente o que irá fazer e fazer somente o que assumiu.
A estratégia é deixar claro que o Brasil não chegará à situação do México e da Argentina. A tarefa é hercúlea. O raciocínio do capital estrangeiro é linear: o que aconteceu nos dois países certamente acontecerá no Brasil. Por que aqui seria diferente? O fato de o país ter abundantes reservas cambiais e reduzido déficit em transações correntes não tranquiliza a longo prazo, já que se sabe que inexistem condições estruturais para a manutenção desses dois trunfos.

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