São Paulo, domingo, 5 de março de 1995
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Desafios ao plano

GJC
DA REDAÇÃO

A estratégia montada para o Plano Real previa, para este início de ano, uma travessia bem mais tranquila.
O grande desafio desta etapa estaria mais localizado no campo político, com o esforço para a aprovação de reformas constitucionais que abririam caminho para um ajuste mais efetivo e duradouro das contas públicas.
No manejo da economia, previa-se um quadro de taxas de juros declinantes, para aliviar as pressões sobre a dívida pública e estimular investimentos produtivos que aumentariam a oferta de produtos.
O rápido aumento do consumo e a crise mexicana complicaram tudo. A taxa real de juros precisou até mesmo ser elevada neste início de ano com três objetivos: conter a demanda interna (inclusive por importações), evitar que o fluxo de capitais só busque a porta de saída e compensar, via adiantamentos de contratos de câmbio, o exportador que reclama da excessiva valorização do real.
Parece não haver outra saída na atual conjuntura, mas tudo isso tem um custo. Juro real alto onera a dívida pública, desestimula investimentos que aumentariam a oferta e costuma exercer pressão inflacionária.
A inflação, aliás, ameaça ser o novo complicador do plano. Fatores isolados como mensalidades escolares certamente vão contribuir para que os índices subam de patamar.
Mais adiante será a hora de uma onda de reajustes de contratos que se mantêm congelados por quase um ano. Os firmados em URV já estão completando este prazo de carência.
Até mesmo as tarifas públicas se aproximam do momento em que precisarão ser ajustadas diante de seus custos.
Mesmo que a inflação seja mantida sob controle, as condições estruturais da economia ainda favorecem sua volta.
No mercado financeiro, tudo anda como antes, com bilhões de reais sendo rolados no curtíssimo prazo. Enquanto isso, o próprio governo ainda alimenta a expectativa de que, com a reforma constitucional, tudo estará equacionado. Quem acompanha os humores do Congresso percebe que não será tarefa fácil. Qualquer sinal de tropeço, previsível em reformas que passarão pela negociação política, poderá criar um clima de pessimismo fatal para o plano.
A equipe econômica deve estar com saudades de quando o desafio era apenas baixar a inflação.

Hoje, excepcionalmente, Luiz Carlos Mendonça de Barros não escreve esta coluna.

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