São Paulo, terça-feira, 7 de março de 1995
Próximo Texto | Índice

Bandas e câmbio

O governo oficializou ontem o sistema de banda cambial móvel. O câmbio move-se dentro de certos limites, mas os próprios limites vão mover-se ao longo do tempo, seguindo cronograma já anunciado.
A maior virtude do novo sistema é tentar livrar-se da camisa-de-força que levou o México à bancarrota e que atualmente agrava os riscos da Argentina. O governo brasileiro fez uma opção pela defesa do equilíbrio externo. O câmbio flexível recoloca a possibilidade de superávits no comércio exterior e de recuperação das reservas internacionais.
A opção tem custos evidentes sobre o equilíbrio interno. Se antes a estabilização estava ancorada no câmbio, o capitão resolveu içar âncora. Há riscos inflacionários na desvalorização cambial. Ela encarece os produtos importados que, aliás, têm ampliado sua participação na economia brasileira. Indiretamente, torna-se mais remota a hipótese de atender a demanda doméstica com produtos importados.
Ou seja, o câmbio desvalorizado torna a economia brasileira mais fechada e, portanto, mais sujeita às pressões inflacionárias. Nesse contexto, desaquecer a demanda torna-se ainda mais crucial e as medidas de corte de gastos públicos anunciadas ontem mesmo são oportunas e podem ajudar a alcançar esse objetivo.
Resta saber se ao menos do ponto de vista do equilíbrio externo há garantias. Infelizmente não é o caso. Em primeiro lugar, simplesmente porque a correção cambial tardou. Coloca-se por exemplo a hipótese de as exportações não passarem por recuperação expressiva. Especialmente porque se espera para as próximas semanas uma temporada de reajustes de preços e contratos, inclusive o do salário mínimo. Ou seja, é possível que o aumento de custos corroa a atual recuperação cambial que, modesta, não repõe eventuais atrasos desde o lançamento do real.
Mais ainda, não se pode ignorar a tremenda turbulência cambial que afeta todos os mercados do mundo. Parece inevitável, diante da corrida global contra o dólar, que o Fed (banco central dos EUA) volte a elevar os juros. O que seria complicação adicional sobre o comércio externo e sobre o balanço de pagamentos brasileiro.
Ancorada firmemente em meio à tormenta, a embarcação corria o risco de fazer água. O novo sistema reduz incertezas, dando alguns parâmetros pelo menos até maio.
Âncora içada, a política econômica ganha flexibilidade para perseguir um novo rumo. Pena que ainda não se saiba ao certo qual.

Próximo Texto: Parque dos dinossauros
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.