São Paulo, terça-feira, 7 de março de 1995 |
 |
|
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Liquidação de verão
LUIZ CAVERSAN RIO DE JANEIRO — A equipe de televisão fora ao shopping para filmar a movimentação de compradores por causa da liquidação de verão. Mas o que acabou registrando foi outro tipo de "liquidação", uma sequência de cenas daquelas que envergonham a cidade, o país.As imagens do soldado atirando contra o homem caído no chão, imobilizado, deveriam indignar a todos. Deveriam. Mas alguns exemplos da chamada "voz do povo", estes sim, causam indignação ainda maior do que o fuzilamento público. Veja, por exemplo, a opinião de uma dona-de-casa aqui do Rio: "Acho que o policial errou ao matar o bandido na frente das câmaras. Deveria ter feito na moita". Conceito interessante este: justiça deve ser feita com o revólver do policial, mas "na moita", de maneira que não nos agrida como o faz a imagem que chega pela TV. Desagradáveis esses repórteres e suas câmaras indiscretas... Mas a crueza das imagens (quem não as viu que saiba do seguinte: elas mostram nitidamente o soldado atirando no homem deitado e imobilizado, três tiros) não é suficiente. Pelo menos para o governador Marcello Alencar, em última análise o responsável maior pelo soldado, funcionário público estadual. Ao mesmo tempo em que afirma que "não há desculpa para a atitude" do soldado matador, Alencar diz: é preciso verificar se há "circunstâncias" que possam "favorecer na redução da punição a que será submetido". Desculpe a repetição, mas conceito interessante este: antes de pensar em punir exemplarmente, o governador está preocupado com atenuantes para amenizar a pena! Não há circunstâncias, há fatos, imagens, contra as quais não existem argumentos e sobre as quais pode-se dizer apenas que o Estado representado pelo senhor Marcello Alencar mantém policiais despreparados, destemperados e que matam um homem indefeso. Por que o suposto ladrão não foi algemado imediatamente após ter sido rendido? Talvez este pequeno "detalhe" já indicasse a intenção dos homens da lei. Mas ainda bem que havia um outro detalhe: a câmera da TV. Texto Anterior: Caiu na real Próximo Texto: Neocapitalismo Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |