São Paulo, quinta-feira, 9 de março de 1995
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Salvador vira a capital da percussão

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

A percussão peregrina a Salvador de 27 a 30 deste mês. Nesses quatro dias, a capital baiana deve virar a meca dos ritmos com a segunda edição do Panorama Percussivo Mundial (Percpan).
O festival é um dos mais importantes do gênero. Ele traz este ano 14 atrações, nove internacionais, que se apresentam no teatro Castro Alves para um público de 2.000 pessoas por noite.
Os grandes astros do Percpan são os 22 músicos e bailarinos do grupo do percussionista Doudou N'Diave Rose, do Senegal. São os primeiros participantes africanos do evento, ao lado do tocador de djembé (tambor tradicional) Adama Dramé, da Costa do Marfim.
Neste ano vêm também o clube de música, teatro e dança Bharata Muni, da Indonésia, as norte-americanas Layne Redmond e Terri Lyne, a dupla nova-iorquina Drumin 2 Deep, o conjunto de candombe La Calenda, do Uruguai, o sexteto indiano da cantora Shobha Gurtu e o grupo cubano Los Mu¤equitos de Matanzas.
O Bharata Muni, com 35 pessoas, pratica a arte do gamelão (pequenos gongos) associada ao teatro. Shobha Gurtu canta acompanhada por tablas e órgão. Drumin 2 Deep batuca em baldes. Terry Lyne é baterista de jazz. La Calenda e Los Mu¤equitos fundem tradições locais ao folclore afro.
No setor brasileiro, a novidade está nos espetáculos de Gilberto Gil e Milton Nascimento. A dupla de astros da MPB promete experimentar novos compassos e mostrar composições novas, criadas especialmente para a ocasião.
Gil é acompanhado pelos percussionistas Naná Vasconcelos (que responde pela direção artística do Percpan) e Neguinho do Samba. Milton tem a seu serviço a família do baterista Robertinho Silva.
A linha estética escolhida por Naná para definir o festival deste ano está no intercâmbio dos ritmos mineiros e baianos. Integram as atrações brasileiras Marcos Suzano, o bloco afro Ilê Aiyê e os tambores de crioula do grupo Fogo de Mão, de São Luís do Maranhão.
A empresária e socióloga Elisabeth Kayres, produtora do evento, calcula a aterrissagem de 3.500 toneladas de tambores e assemelhados no aeroporto de Salvador. Ela recebe uma subvenção da prefeitura da cidade, mas ainda depende de bilheteria para cobrir os custos. "É um prazer e um sufoco", diz. "São 200 pessoas envolvidas num trabalho idealista, que visa a transformar definitivamente a cidade em capital mundial da percussão."
Segundo a empresária, o custo do Percpan é de US$ 350 mil: "Não chega a ser muito grande se pensarmos na qualidade dos artistas. Mas, ainda assim, não consegui um patrocínio grande por parte de uma empresa para consolidar o evento e poder levá-lo para Rio e São Paulo no ano que vem". O ingresso custa R$ 20,00. Cada noite é uma maratona, com duração prevista de três horas cada.
Elisabeth insiste em imprimir ao evento um caráter cultural. Além dos shows, acontecem workshops ministrados pelos músicos e encontros para troca de idéias.
Os workshops ocorrem no teatro, à tarde. São gratuitos e abertos ao público. Entre os encontros, destaca-se o do dia 27, à tarde, na sede do afoxé Filhos de Gandhi, que recebe a visita dos músicos indianos de Shobha Gurtu. Na tarde seguinte, a mãe-de-santo Stella recebe os Mu¤equitos de Matanzas no terreiro Axé Apó-Afonjá.
Para Elisabeth, o caráter percussivo do evento deve integrar dança, voz e outros instrumentos: "Percussão engloba tudo, dos ritmos do corpo ao piano. Na verdade, o Percpan é um festival da música universal." Ela acredita que o evento tenha capacidade de se prolongar por mais seis anos, sem perder o impacto da novidade.

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