São Paulo, sexta-feira, 10 de março de 1995
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O preço das reformas

A aprovação pelo Senado da lei que limita os juros a 12% deve ter mostrado ao governo que, em matéria de obtenção de apoio político no Congresso, tudo está por fazer.
Entre os que concordaram com a lei da usura, 76% eram senadores da base governista. Se fosse de fato transformado em lei —precisa ainda passar pela Câmara e ser sancionado pelo presidente—, o teto de 12% inviabilizaria todo o esforço governamental de controle da moeda. De resto, o momento é mais do que inoportuno: a taxa de juros e o câmbio, hoje nervos expostos da economia, são os dois mecanismos centrais de administração do plano.
É de se perguntar se a atitude dos senadores governistas é resultado de inconsequência, ignorância do projeto político que dizem apoiar ou da incapacidade dos líderes de FHC. Talvez possa se suspeitar ainda de que tenha havido mera exibição de força para aumentar o poder de barganha parlamentar.
Uma solitária vitória nestes dias de notícias adversas na economia e na política foi obtida a duras penas. Anteontem o governo precisou de oito horas e até de dúzias de sanduíches (para manter o quórum) para aprovar na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara três medidas do pacote de reformas.
Para piorar, ontem o governo viu a crise de sustentação política estourar no seu próprio colo. O presidente do PSDB, Pimenta da Veiga, renunciou ao cargo devido a uma disputa de poder com Sérgio Motta, ministro das Comunicações e amigo íntimo de FHC. A decisão de Veiga foi tomada em meio a uma reunião marcada pela revolta da bancada tucana, que se diz esnobada pelo Planalto. Os tucanos são o segundo caso da semana de revolta coletiva. Na terça-feira, irrompera a rebelião matreira do PMDB, que parece tentar aumentar seu cacife de nomeações através da retirada do apoio às reformas econômicas.
Os reveses do começo de março parecem significar que os parlamentares estão pagando para ver até onde vai a intenção anunciada de FHC de negociar apenas propostas, sempre através dos partidos. E o estoque de cargos públicos que o Planalto ameaça sacar da algibeira sugere que, na melhor das hipóteses, deve vir pela frente uma solução híbrida, na linha da chamada "política do possível".

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