São Paulo, sexta-feira, 17 de março de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Privatização de rodovias

ADRIANO MURGEL BRANCO

Os primeiros seis meses de Plano Real já demonstraram o poder de uma política de estabilidade da moeda como fator de desenvolvimento, promovendo a intensificação de muitas atividades econômicas. E uma das consequências mais fortes é o aumento da demanda dos transportes, já que a sua taxa de crescimento é sempre maior do que a da própria economia.
Como o governo federal valeu-se também da estabilidade da moeda para reduzir os preços dos combustíveis dos automóveis, já se faz sentir um acréscimo de utilização das vias, superando as expectativas.
Com efeito, o consumo de combustíveis aumentou 23%, dando como uma de suas consequências mais visíveis a saturação do sistema de rodovias que liga São Paulo à Baixada Santista. Mas também o trânsito da capital se complicou consideravelmente.
Hoje se observa que a longa crise econômica por que vem passando o Brasil permitiu e promoveu o adiamento de importantes investimentos na área dos transportes e das vias. Mas agora urge procurar retomar esses investimentos, o que se tornou particularmente difícil nesta quadra, dados o esgotamento dos recursos públicos para tal fim e, particularmente, o caos em que se encontram as finanças do Estado.
Resta a opção do concurso da iniciativa privada.
Em novembro passado, fui visitar, a convite do governo da França, o sistema de auto-estradas privadas daquele país. É de fato algo impressionante, pela qualidade das vias, pelos cuidados com o meio ambiente e pelas aprimoradas técnicas de operação e manutenção das vias.
A sobrevivência do sistema se apóia, porém, em dois fatores fundamentais: as elevadas densidades de tráfego e o realismo tarifário. As densidades aumentam com a oferta de boas estradas e com o crescimento da economia. Os intercâmbios comerciais que se elevaram com a criação do Mercado Comum Europeu, tal como ocorrerá aqui em função do Mercosul, vêm contribuindo muito para o aumento do tráfego.
Por outro lado, a constatação de que boas rodovias promovem significativa redução de custos operacionais (maior velocidade, menor consumo de pneus, peças e combustíveis, menos possibilidade de acidentes etc.) tem justificado com larga folga a cobrança de pedágios que se situam em torno de sete centavos de dólar por quilômetro, em média.
Isso significaria, entre nós, cobrar cerca de US$ 8,5 no percurso de ida e volta a Santos, ou talvez menor, se todos os usuários dos diversos trechos das rodovias pagassem pedágio.
É ilusório imaginar ser possível privatizar rodovias em nosso país sem uma política realista de pedágios. A não ser que o governo arque com os investimentos, exatamente o que não se quer e o que é impossível nos dias atuais.

Texto Anterior: Dívida pode gerar corte de luz em órgão público
Próximo Texto: Mãe acusa cantor de fugir com seu filho
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.