São Paulo, sexta-feira, 17 de março de 1995
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Amizade no infortúnio embala 'Sonho'

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Filme: Um Sonho de Liberdade
Produção: EUA, 1994, 139 min.
Direção: Frank Darabont
Elenco: Tim Robbins, Morgan Freeman, Bob Gunton, Clancy Brown, Gil Bellows
Onde: a partir de hoje nos cines Olido 1, Belas Artes/Sala Villa-Lobos, Center Iguatemi 3 e circuito

Não será exagero definir "Um Sonho de Liberdade" como um "Conduzindo Miss Daisy" (1989) carcerário. Só que, em vez de dirigir a velhinha judia, agora cabe a Morgan Freeman —Red— guiar os passos de um jovem banqueiro condenado por matar a mulher.
O banqueiro é Andy Dufresne (Tim Robbins) e Red não conduz seus passos. Em troca, é o narrador da história cujo centro é esse homem saído de um extrato social diferente do habitual.
Dufresne não precisa mesmo ser conduzido. Ele cuida, com rapidez, de se impor aos colegas e de usar seu discernimento muito acima da média para se valer das brechas do sistema, trocar os trabalhos ingratos por uma biblioteca e tornar-se indispensável ao corrupto diretor (Bob Gunton).
A proximidade com "Miss Daisy" vem da idéia de uma longa saga sobre a amizade surgida de um imperativo exterior. Aqui, é o fato de os dois homens cumprirem pena perpétua em Shawshank.
Todo filme de prisão tem convenções quase inescapáveis: o guarda sádico, os homossexuais violentos etc. O filme de Frank Darabont (também fez o roteiro, baseado em conto de Stephen King) aborda a violência do sistema penitenciário, embora esse não seja o seu centro e a vida na cadeia apareça bem edulcorada.
O centro é a vida de homens que, privados de seus direitos de cidadãos, passam a se integrar, lentamente, à vida no presídio, de tal modo que, quando chega a hora da condicional, já não sabem nem querem viver em liberdade. Esse é o núcleo forte do filme, onde estão suas melhores sequências (em particular as que dizem respeito ao velho bibliotecário Brooks/James Whitmore).
Se ganha pontos nesse setor, "Um Sonho" raramente deixa de se filiar ao cinemão (como "Miss Daisy"). Reserva-se pouco espaço a audácias narrativas, a um ritmo mais cerrado. O banho-maria impera, à espera de que o roteiro e seus sobressaltos finais façam efeito (eles fazem, têm imaginação, mas passam a idéia de que alguém está trapaceando com a gente).
À espera, também, de que o elenco acabe dando credibilidade a uma narrativa tradicionalíssima. O elenco comparece e terá ajudado bem o filme a conseguir sete indicações para o Oscar, inclusive melhor filme, roteiro adaptado e ator.
O ator indicado foi Morgan Freeman. Está ótimo como sempre. Mas já era hora de Hollywood reservar para ele outro papel que não o de Pai Tomás deste fim de século. É o que ele tem feito quase sempre, inclusive aqui.

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