São Paulo, sábado, 18 de março de 1995
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Boato de queda de Arida derruba Bolsas

DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado financeiro viveu ontem um dia de nervosismo provocado por boatos de que o presidente do Banco Central, Pérsio Arida, e o diretor da Área Internacional, Gustavo Franco estariam demissionários.
No início da manhã, a agência Dinheiro Vivo afirmou que Gustavo Franco estaria deixando o Banco Central. Às 10h30, a informação do Dinheiro Vivo foi retransmitida pela agência Broadcast.
Houve boatos de que a revista Veja deste fim-de-semana teria reportagem sobre suposto vazamento de informação privilegiada por parte de Pérsio Arida ao seu amigo Fernão Bracher, do banco BBA.
Com base nisto, o mercado financeiro passou a acreditar em uma iminente queda do presidente do BC.
Os boatos atingiram as Bolsas de Valores e o mercado de câmbio. Os boatos foram desmentidos pelo ministro do Planejamento, José Serra, e pela direção do Banco Central, em Brasília. Ana Tavares, sub-secretária de imprensa do presidente FHC, disse à Folha que o boato era infundado.
A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) chegou a sofrer uma queda de 7,4% pela manhã; recuperou-se após o desmentido de José Serra mas acabou fechando em baixa de 5,11% em relação ao dia anterior.
A cotação do dólar subiu de R$ 0,888, pela manhã, para R$ 0,897.
O suposto vazamento de informação para o BBA começou a circular em Brasília e rapidamente se espalhou pelas mesas de câmbio e pelas Bolsas de Valores. As notícias davam conta de Pérsio Arida seria sócio do banco. A direção do BBA mobilizou sua direção e seu departamento jurídico para desmentir as informações.
Pelos documentos entregues à Folha pela direção do BBA, a HE Participações foi registrada na Junta Comercial de São Paulo no dia 20 de abril, em nome de Fernão Bracher, ex-presidente do Banco Central no governo Sarney, de Antônio Beltran Martinez (ex-diretor do Bradesco) e de Arida.
Pelos documentos, Arida desvinculou-se da empresa no dia 13 de junho do mesmo ano e transferiu suas ações para os outros dois acionistas. Entre os documentos entregues à Folha pelo BBA está uma carta assinada por Arida naquela data na qual ele renuncia ao cargo de diretor e se afasta da sociedade.
O BBA Creditanstalt foi registrado um mês depois de Pérsio Arida haver se desligado da HE Participações.
Antônio Martinez, vice-presidente do BBA, atribuiu os boatos sobre as supostas denúncias contra Pérsio Arida aos antigos acionistas do Banco Comind, que segundo ele, estariam querendo atingir Fernão Bracher e o atual presidente do BC.
O Comind foi liquidado em 1985, quando Bracher presidia o Banco Central e entrou com uma ação contra o BC. Teve ganho de causa em primeira instância, o que lhe daria direito a uma indenização de cerca de US$ 2 bilhões, segundo informação de Martinez.
O lado irônico desta versão é que o ex-presidente do Comind, Carlos Eduardo Quartin Barbosa, é primo de Fernão Bracher.
A Folha procurou ouvir Quartin Barbosa mas a informação dada em seu escritório em SP é de que ele se encontra incomunicável em uma fazenda.
Martinez negou que o seu banco tenha obtido informações privilegiadas sobre a mudança no câmbio. Afirma que, ao contrário, a instituição teve prejuízo de US$ 1,4 milhão na semana.
Disse, porém, que Bracher e Arida são amigos e que, no fim de semana anterior às mudanças, o presidente do BC dormiu na fazenda de Fernão Bracher, em São Carlos (interior de São Paulo).

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