São Paulo, sábado, 18 de março de 1995
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Quebrou o encanto?

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO — A boataria de ontem em torno de supostas revelações que uma revista faria sobre maracutaias na mudança cambial deixa duas questões:
1) Haverá algo de fato comprometedor para as autoridades? Se houver, o estrago, como é óbvio, será terrível e irreparável. Até dispensa comentários.
2) Se não houver ou for muito menos do que o mercado especulou, o que acontece?
O risco que a equipe econômica corre é o de que se quebre o encanto. Até agora, tudo o que se disse de negativo a respeito de seus integrantes entrava no campo da divergência de idéias, de propostas, de "timing" etc.
Ninguém levantara suspeitas fundadas sobre irregularidades no território da ética. Só ontem é que os mercados introduziram esse dado na equação.
Aí, cabe um cuidado imenso. A natureza fortemente especulativa dos mercados financeiros faz com que considerações de natureza ética sejam um acessório irrelevante nesse jogo. Quem perdeu dinheiro com a mexida cambial da semana passada pode querer vingar-se destruindo reputações sem a menor preocupação com o fundamento das suspeitas.
Acresce notar que uma alteração cambial era uma boa aposta desde antes da posse do governo, a partir do instante em que José Serra ganhou a disputa pelo Ministério do Planejamento. Adicione-se a crise mexicana e está armada a lógica para se mexer no câmbio.
Quem olhava para a lógica, pode ter apostado certo mesmo sem ter recebido informação privilegiada. Mas vai ser difícil convencer o público de que foi uma aposta lógica e não o resultado de alguma maracutaia, ainda mais se se considerar a predisposição (universal, não apenas brasileira) de se desconfiar permanentemente das autoridades.
O estrago pode no entanto ser contido se o BC, que tem os registros nos seus computadores, divulgar todas as operações cambiais desde o Carnaval.
Goste-se ou não da política econômica, o que não se pode permitir é a vitória da especulação, esteja ela do lado de dentro ou de fora do governo.

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