São Paulo, domingo, 19 de março de 1995
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'Parei com coca e caí no uísque'

DA REPORTAGEM LOCAL

'Parei com coca e caí no uísque'
Juliano A., 17, está há cinco meses numa das mais sofisticadas clínicas do país, a Maxell. Usava cocaína, crack e álcool -o pior dos vícios, segundo ele.
*
"Foi com 9 anos que bebi pela primeira vez por conta própria. Toda sexta-feira meu pai saía, eu pegava uma garrafa de vinho e tomava. Nesse período eu bebia pouco. Não bebia para cair. Vomitei só duas ou três vezes. Era sempre vinho bom.
Foi com 13 anos que comecei a beber mais, mas sabia a hora de parar, não bebia todo dia.
Nessa mesma época experimentei cocaína e crack. Aí foi uma doença. Eu cheirava e fumava muito crack.
Nunca misturei álcool com cocaína. Tinha pavor. Achava que ia morrer de overdose. Toda minha turma bebia e cheirava muito e eu só cheirava.
Estou na quinta internação. Numa das primeiras, quando eu tinha 14 anos, consegui parar com o crack, com a cocaína e aí eu comecei a beber muito.
Eu achava que bebida não viciava, que não ia fazer mal. O mal para mim era cocaína. Com 16 anos eu bebia uma garrafa de uísque numa noite e me entupia de cerveja.
O uísque foi o substituto da coca. Quando paro de cheirar dá uma vontade de beber. Está mais difícil parar com o álcool do que com a cocaína. Parei de cheirar pó há quatro meses e meio e faz um ano e meio que não fumo crack.
É difícil parar com qualquer droga. Crack é foda. Acaba com você. Abandonei a escola na 6ª série, já fui expulso de quatro colégios e voltava sempre para aquela merda.
Mas álcool é o mais difícil. Se eu saísse hoje da clínica, tenho certeza que iria beber.

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