São Paulo, domingo, 19 de março de 1995
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Diabetes da noiva adia casamento via Internet

The Independent
De Londres

ROBERT MILLIKEN
EM SYDNEY

Era um romance de conto de fadas, nascido por computador. Robert Boot, um bibliotecário de Brisbane, em Queensland, Austrália, conheceu Charlene Mirabella, bibliotecária em Buffalo, Nova York, batendo papo na rede internacional de computadores Internet.
Apesar de viverem em lados opostos do oceano Pacífico, eles se apaixonaram. Em dezembro passado, casaram-se nos Estados Unidos. Foi então que o desastre se abateu sobre suas cabeças, derrubando o casamento ao chão.
O serviço australiano de imigração informou os recém-casados que Charlene não seria bem-vinda ao país. Motivo: ela é diabética e seu peso é considerado excessivo. Ela representaria um ônus potencial ao sistema nacional de saúde.
Estamos com muita raiva, disse Boot, 40, bibliotecário-chefe de ciências da saúde da Universidade de Queensland. Como cidadão australiano, supus que poderia trazer minha mulher para viver comigo, desde que ela não fosse da Máfia nem doente terminal.
Enquanto isso Charlene Mirabella, 40, que já se demitiu do emprego de bibliotecária de uma faculdade, ainda está naufragada no ciberespaço, a 16 mil km.
O namoro dos dois começou há um ano, através de uma conferência internacional de bibliotecários na Internet.
O que chamou a atenção de Mirabella foi um comentário que Boot difundiu, fazendo pouco das queixas de colegas bibliotecários insatisfeitos com a imagem pública apagada. Parem com esse nhenhenhém, disse. A imagem de cada um está nas próprias mãos.
No dia 9 de março de 1994 Mirabella enviou uma resposta a Boots pelo correio eletrônico.
Começamos a bater papo, um escrevia e o outro respondia, diz Boots. Compartilhamos informações cada vez mais pessoais. Em 5 de abril eu a pedi em casamento, pelo correio eletrônico. Nunca tínhamos visto uma foto um do outro. Não me lembro se meia hora depois ou no dia seguinte, chegou a resposta — 'sim'.
Em dezembro passado, Boots foi até Buffalo, e eles se casaram quatro dias depois de se verem cara a cara pela primeira vez.
Foi só quando Mirabella deu entrada num pedido de residência permanente na Austrália que ouviu do consulado australiano em Nova York que, antes de ser aceita, teria que apresentar um relatório médico sobre seu diabetes e perder 12 quilos. Após semanas de discussões, Boot teve que deixar sua mulher nos EUA e voltar para seu emprego na Austrália.
Um porta-voz do Departamento de Imigração, em Canberra, disse que o departamento não comenta casos individuais, "por questão de privacidade". Segundo ele, pessoas com excesso de peso correm risco de ter "sérios problemas de saúde", mas as restrições podem ser afrouxadas no caso de pedidos de residência para cônjuges, desde que não haja riscos.
Enquanto isso, o casal vem conduzindo a vida conjugal da mesma maneira que o namoro: à distância. Eles "conversam" diariamente, principalmente sobre a separação forçada. "Não culpo os burocratas", disse Boots. "Culpo os políticos. Será que existe uma política não-manifesta para manter determinadas pessoas fora do país? Isso lembra a velha política da Austrália só para brancos".

Tradução de Clara Allain

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