São Paulo, terça-feira, 21 de março de 1995
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Estudo analisa ação sindical nos canaviais de PE

DA REPORTAGEM LOCAL

A atuação de sindicatos entre os trabalhadores dos canaviais de Pernambuco teve outro resultado além da obtenção de direitos trabalhistas básicos. Serviu para que houvesse uma disseminação entre os trabalhadores da idéia de que a autoridade absoluta e por vezes arbitrária dos empresários da cana pode ser colocada em questão através de decisões na Justiça.
Por outro lado, estes mesmos sindicatos, por limitarem seu trabalho ao campo das reivindicações trabalhistas, começam a ver seu poder de fogo diminuído por inovações tecnológicas no campo e por estratégias empresariais para minar a organização sindical.
A tese é da pesquisadora Sandra Maria Correa de Andrade, apresentada como trabalho de doutoramento em sociologia na USP.
Sandra analisou a história da ação sindical nos canaviais pernambucanos a partir dos anos 70.
Ela observou que as campanhas salariais são, na visão dos canavieiros sobre a ação sindical, um momento em que os empresários "se dobram às decisões da Justiça", mesmo que costumeira e posteriormente estas não venham a ser cumpridas.
Simbolicamente, os empresários deixaram de ser os provedores, "protetores e bondosos", de uma oportunidade de trabalho, como apareciam no imaginário dos trabalhadores antes de seu contato com o sindicato.
"Tudo isto definiu (o sindicalismo), para o trabalhador da cana, o respeito que o patrão tinha que lhe ter, não apenas como força de trabalho, mas como ser humano; a violência característica da relação patrão/empregado, na área, ainda que não eliminada, passou pelo menos a ser denunciada e a serem pressionados os órgãos responsáveis para coibi-la e puni-la", escreve a pesquisadora.
Apesar das conquistas trabalhistas, relatório da Contag, de 1991, sobre as dificuldades da ação sindical ainda cita problemas como envenenamento por agrotóxicos, desemprego causado por inovações tecnológicas e não reparado por políticas de capacitação ou reaproveitamento de mão-de-obra, falta de registro profissional e assassinatos motivados por reclamações trabalhistas. Os trabalhadores continuavam a ser transportados em "gaiolas" (caminhões de cana) sem segurança e eram alojados em barracões provisórios.
O movimento sindical, no entanto, encontrou obstáculos em sua ação no momento mesmo em que alcança um nível maior de organização.
Os empresários passam a contratar mão-de-obra temporária e estranha ao local da organização com o objetivo de diminuir a coesão dos canavieiros. Ao mesmo tempo, os trabalhadores da cana enfrentam mudanças tecnológicas que diminuem o nível de emprego.
Para a pesquisadora, a reivindicação trabalhista limita o campo da ação sindical, que não consegue discutir questões estruturais, como a da posse da terra, o que poderia ampliar o campo de sua ação e dar um novo e mais amplo sentido ao debate social que propunha.

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