São Paulo, quarta-feira, 22 de março de 1995
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Vendas por computador disparam nos EUA

MARINA MORAES
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE NOVA YORK

Quando os céticos começaram a duvidar se as vendas informatizadas teriam futuro, apareceu Andrew Parkinson e sua Peapod. Ele é um empresário de Illinois, que juntou duas coisas aparentemente desconexas: verduras e micro.
Como todo visionário, Parkinson apostou na idéia cinco anos atrás. De lá para cá já conseguiu 7.000 consumidores nas regiões de Chicago e San Francisco. Gente que perdeu a paciência de ir até o supermercado para fazer compras e agora dispara pedidos pelo computador, fax ou telefone.
Em 95, a Peapod vai faturar mais de US$ 15 milhões. O usuário paga uma taxa mensal fixa pelo uso do serviço. De uma lista de 18 mil produtos que recebe pelo correio, o consumidor escolhe o que quer comprar: duas dúzias de bananas, três maços de alface, meia dúzia de cerveja, duas latas de pêssegos em calda e assim por diante. O supermercado tem 90 minutos para fazer a entrega.
No final do ano passado o negócio de Parkinson estava dando tão certo que uma companhia telefônica, a Ameritech, decidiu comprar a Peapod. Dentro de alguns meses a rede de vendas será ampliada para todo o país.
Muito já se falou sobre as vendas por computador. As redes CompuServe, America Online e Prodigy oferecem shopping centers eletrônicos para seus 7 milhões de assinantes. Conectado a um desses serviços, o usuário escolhe lojas e encomenda produtos. A compra chega pelo correio e o pagamento é feito por cartão de crédito.
Mas o barulho feito em torno dessa novidade é muito maior do que o resultado concreto. Hoje em dia, menos de 40% dos americanos tem computador em casa. Destes, apenas uma fração frequenta as redes on line. E a maioria ainda rejeita a idéia de fazer compras eletrônicas.
A previsão de que as lojas tradicionais teriam seus dias contados, que chegou a ser feita, é obviamente um exagero. Estudiosos do assunto lembram que, para o americano, consumir é mais do que satisfazer uma necessidade. Muitos frequentam lojas por diversão. Outros rejeitam a idéia de comprar um produto sem vê-lo fisicamente.
Depois da euforia despertada pelas compras eletrônicas, começaram a pipocar na imprensa especializada os contra-argumentos. Um deles lembra que as mulheres jamais comprariam um vestido sem saber exatamente o tom da cor do tecido.
Conclusão do debate: as vendas por computador vão crescer menos do que o esperado. Enquanto a maioria do público for analfabeta em informática, só terão lucro os shopping centers eletrônicos que servirem a nichos do mercado. A Peapod é um bom exemplo. O consumidor já tem familiaridade com os produtos que consome no dia-a-dia. Usando o serviço, evita as filas do caixa e economiza o dinheiro da gasolina.
Muitas redes de lojas experimentam as vendas por computador sem pensar nos lucros imediatos. Não querem é ficar para trás da concorrência. A Sears e a J.C.Ponney, gigantes do varejo americano, têm projetos próprios para combater o Kmart no ciberespaço.
Na Flórida, a Time Warner testa a sua Rede Completa de Serviços, que permite ao usuário frequentar on line um grupo de lojas que oferecem de camisetas do Pernalonga a eletrônicos de última geração. Atira no consumidor sofisticado, justamente aquele que tem mais dinheiro para gastar. Gente que cansou de bater perna pelas lojas e que descobriu a conveniência de comprar sem sair de casa, usando apenas o teclado do computador.

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