São Paulo, quarta-feira, 22 de março de 1995
Próximo Texto | Índice

Arida no Senado

O presidente do Banco Central, Pérsio Arida, tentou em seu depoimento ao Senado, ontem, responder à agitação que tem tomado conta dos mercados financeiros. A reação inicial parece ter sido positiva, mas é evidente que o período de extrema instabilidade das últimas semanas não foi superado.
Com relação à corrida contra o real que marcou a criação do sistema de bandas cambiais, Arida ressaltou que o Banco Central registrou um lucro de US$ 82 milhões com a venda e recompra de dólares, ao passo que as instituições financeiras sofreram um prejuízo médio de aproximadamente US$ 500 mil. Como se quisesse provar, com números, quão falsas eram as especulações sobre informações privilegiadas a alguns operadores.
É sintomático notar que Arida não lembrou —nem foi questionado pelos complacentes parlamentares— da expressiva saída de recursos do país que já se vinha verificando desde a eclosão da crise mexicana, mas que se agudizou significativamente a partir da mudança do regime cambial. Essa drenagem, no entanto, constitui um desdobramento altamente inquietante, que merece a maior atenção.
O presidente do BC culpou ainda órgãos de imprensa e supostos autores de boatos pelos rumores que vêm circulando no mercado acerca de dissensões na equipe econômica. Ninguém ignora que boatos podem ser plantados com interesses específicos. De certa forma, fazem parte do jogo financeiro. Mas se prosperam com a enorme insistência dos últimos dias, vindos das mais diversas fontes, e chegam a causar efeito concreto no mercado, evidentemente tornam-se notícia.
Juntamente com as sucessivas declarações desencontradas a respeito da durabilidade e da firmeza das bandas cambiais, as suspeitas de desavenças na área econômica do governo têm representado um sensível elemento de intranquilidade no mercado. São agravantes desnecessários, evitáveis, que deveriam ser eliminados do cenário o mais rápido possível.
Apenas depoimentos não são suficientes para realmente convencer o país de que não há divergências. Unificar o discurso e atuar de forma coesa são providências essenciais para desanuviar pelo menos um pouco o horizonte. E permitir que o governo possa se concentrar nos muitos e já bastante graves problemas concretos que o país enfrenta na área econômica e cambial.

Próximo Texto: Por melhor gerência
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.