São Paulo, sexta-feira, 24 de março de 1995
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Viciado diz que pegava seringas no lixo

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Internado há três anos da Caasa (Casa de Apoio e Assistência ao Aidético), em Salvador (BA), I.C.F., 22, disse que aprova o programa de troca de seringas elaborado pelo Ministério da Saúde.
Nos dois últimos dias, cinco usuários de drogas injetáveis compareceram ao Cetad (Centro de Estudos e Terapia do Abuso de Drogas), para trocar as seringas. Salvador é a primeira cidade brasileira a implantar o programa.
Ex-office boy, I.C.F. disse que desde os 14 anos é viciado em drogas injetáveis. A seguir, os principais trechos de sua entrevista à Agência Folha.

Agência Folha — Você comprava seringas para se drogar?
I.C.F — Não, porque nunca tinha dinheiro. Muitas vezes pegava seringas usadas no lixo.
Agência Folha — Como você recebeu o programa de troca de seringas executado na Bahia?
I.C.F — Foi uma excelente idéia. Sou paciente normal do Cetad (Centro de Estudos e Terapia do Abuso de Drogas) e não vou deixar a oportunidade de trocar as seringas quando eu for me tratar.
Agência Folha — Você tem o vírus da Aids?
I.C.F — Sim, fiquei sabendo que estava com o vírus há cinco anos. Acho que me contaminei com drogas injetáveis.
Agência Folha — Quantas vezes por mês você vai ao Cetad?
I.C.F — Vou uma vez por mês para me consultar com o doutor Tarcísio (Tarcísio Matos de Andrade, coordenador do programa de troca de seringas na Bahia). Antes mesmo do programa, eu já pegava seringas novas e camisinhas. Agora, isto será uma rotina.
Agência Folha — Quantos convivem com você na Caasa?
I.C.F — Aqui estão internados 32 pessoas, entre homens e mulheres. A maioria recebeu com satisfação este programa.
Agência Folha — Onde você começou a se drogar?
I.C.F — No Pelourinho, quando tinha apenas 14 anos. Na época, a droga era uma espécie de fuga para meus problemas sociais.
Agência Folha — Você acha que a troca de seringas pode reduzir o número de drogados?
I.C.F — Acho que sim. O drogado não deixa o vício de uma hora para outra. Com a troca, a população corre menos risco.

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