São Paulo, sexta-feira, 24 de março de 1995
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Governo mudará política de preço mínimo

DA REPORTAGEM LOCAL

Os grãos cotados no mercado internacional, como soja, arroz, trigo e milho, não terão mais preços mínimos de garantia a partir da próxima safra.
A política de preços mínimos será mantida apenas para os produtos da cesta básica ou de consumo regional, como feijão e farinha de mandioca, afirma o ministro da Agricultura, José Eduardo de Andrade Vieira, em entrevista exclusiva à Folha.
A seguir, os principais trechos da entrevista.

Folha - O senhor comentou que o preço mínimo não é uma boa política hoje. O governo vai acabar com o preço mínimo?
José Eduardo de Andrade Vieira — Vamos acabar com o preço mínimo para as commodities cotadas internacionalmente, a partir da próxima safra.
Folha - Então o trigo não vai ter mais preço mínimo a partir de julho?
Andrade Vieira — O trigo vai ter um preço de referência que deve balizar os financiamentos. Vamos ter preço mínimo para os produtos da cesta básica, que não têm cotação internacional.
Folha - Quais seriam esses produtos?
Andrade Vieira — Farinha de mandioca, feijão e produtos regionais que compõem a alimentação básica.
Folha - Essas medidas serão anunciadas quando?
Andrade Vieira — Nós vamos discutir com os setores até julho.
Folha - Então o agricultor não vai ter mais a garantia de que o governo compre o seu produto por um preço mínimo?
Andrade Vieira — Não. Nós precisamos criar condições para tirar o governo da comercialização. O governo tem que fazer estoques de segurança nacional. Esse carregamento de produto consumido ao longo do ano é o sistema privado que tem que fazer.
Folha - Como o senhor vai desatar o nó da comercialização desta safra, isto é, o descasamento entre o preço agrícola, congelado desde julho, e a TR (Taxa Referencial) que corrige as dívidas do agricultor?
Andrade Vieira — Já está desatado. Com a possibilidade de buscar recursos externos pelo prazo de 180 dias, a agroindústria tem condições de fazer essa captação no sistema bancário e comercializar normalmente a safra.
Folha - Mas, com a crise do México e da Argentina, os bancos estrangeiros têm receio de emprestar dinheiro para o Brasil?
Andrade Vieira — O receio realmente havia enquanto a perspectiva de déficit na balança comercial era uma realidade. A partir do momento que o governo tomou as medidas para corrigir essa distorção, ele criou condições para que, daqui para frente, o Brasil volte a ter superávit comercial. Paulatinamente a confiança se restabelecerá e os financiamentos do sistema bancário internacional para o brasileiro voltarão.
Folha - O custo desses financiamentos é alto?
Andrade Vieira — É muito mais barato do que a TR.
Folha - Já está fluindo o capital estrangeiro? Quanto já entrou no país?
Andrade Vieira — Sim o capital estrangeiro está fluindo para o Brasil. Mas eu não tenho idéia de quanto foi captado porque o dinheiro entra através dos bancos privados e do Banco do Brasil. Só no final do mês é que o Banco Central colhe essas informações.
Folha - Qual a parcela do governo na comercialização desta safra?
Andrade Vieira — O governo vai movimentar cerca de 20 milhões de toneladas de grãos: 15 milhões de toneladas pelo sistema de equivalência de produto, de 1,5 milhão a 2 milhões de toneladas pela compra da Conab (AGF) e mais as operações de EGF que o Banco do Brasil está fazendo desde segunda-feira. Nós não temos certeza do volume que isso pode alcançar.
Folha - O restante fica para a iniciativa privada?
Andrade Vieira — Sim. Mas veja bem: o Brasil consome 70 milhões de toneladas de grãos. Ao tirar do mercado de 15 milhões a 20 milhões de toneladas, o governo deixa para a comercialização do setor privado um estoque inferior à aquele que o Brasil consome e exporta. Isso é uma garantia de que os preços subirão.
Folha - Os preços de mercado, hoje abaixo do mínimo para a maioria dos produtos, melhoram a partir de quando?
Andrade Vieira — A partir do momento que o agricultor tiver consciência de que essas providências que nós tomamos vão melhorar o preço. Ele mesmo deve segurar um pouco a venda e aguardar um preço justo para o seu produto.

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