São Paulo, sexta-feira, 24 de março de 1995
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Arida admite adotar medidas recessivas

GUSTAVO PATÚ; ALBERTO FERNANDES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Banco Central, Pérsio Arida, afirmou ontem a deputados que o governo usará "todos os meios" para evitar a permanência dos atuais níveis de crescimento da economia, considerados "exagerados".
A afirmação foi feita durante seu depoimento na Câmara dos Deputados. Ele foi convocado para explicar as últimas medidas na política cambial e as denúncias de vazamento de informações para bancos.
Arida anunciou que nas próximas semanas será divulgada uma "reformulação" do sistema de recolhimentos compulsórios de recursos bancários ao BC, para "dar um aperto maior na liquidez" —reduzir a quantidade de dinheiro em circulação na economia.
Hoje, os bancos têm de recolher ao BC 90% dos depósitos à vista (contas correntes) e 27% dos depósitos a prazo e cadernetas de poupança —os percentuais mais altos conhecidos em nível internacional— para conter o consumo.
Além disso, disse o presidente do BC, serão cortados gastos das empresas estatais, que afetam o nível de consumo na economia.
Arida disse que vai manter taxas de juros altas, para conter o consumo, enquanto o Congresso não aprovar as reformas para equilibrar as contas do governo.
Segundo o presidente do BC, a queda das taxas —possibilidade de que falou na última terça-feira— ocorrerá "quando toda essa instabilidade passar".
Além de controlar a inflação, o governo quer também recuperar o saldo da balança comercial. O aquecimento da economia tem aumentado o nível de importações e, consequentemente, as saídas de dólares do país.
Os deputados Delfim Netto (PPR-SP), Francisco Dornelles (PPR-RJ) e Maria da Conceição Tavares (PT-RJ), todos economistas, disseram a Arida duvidar que o governo conseguirá equilibrar a saída de dólares do país.
Os números são os seguintes: o país deverá remeter ao exterior este ano, a título de pagamento de juros da dívida externa e outros serviços, cerca de US$ 15 bilhões. Esse valor terá que ser compensado com superávits comerciais e investimentos diretos.
Entretanto, as projeções indicam que o país deve conseguir um saldo positivo na balança comercial de US$ 5 bilhões —muito abaixo do rombo na balança de serviços.
As medidas adotadas pelo governo para incentivar as exportações não impediram que o governo amargasse déficits comerciais nos dois primeiros meses do ano.
A outra alternativa para compensar o déficit com o serviço da dívida —a entrada de capitais externos— ficou seriamente dificultada após a crise mexicana.
Por isso, resta ao governo evitar que o aquecimento da economia continue estimulando as importações e impedindo a volta dos superávits comerciais.
O presidente do BC disse nunca ter defendido déficits nas relações do país com o exterior —uma alusão ao diretor de Assuntos Internacionais do BC, Gustavo Franco, defensor da idéia no ano passado.

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