São Paulo, sexta-feira, 24 de março de 1995
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Risco externo

O déficit comercial recorde de US$ 1,095 bilhão em fevereiro mostra o quanto o governo confiou, equivocadamente, no fluxo de capitais externos. Em tese, tais capitais cobririam o déficit na conta comercial. Agora, resta saber se as correções já feitas são suficientes.
O aumento da tarifa de importação de carros, em meados de fevereiro, não tem efeito imediato. Ainda assim, o aumento das importações de automóveis de US$ 381 milhões em janeiro para US$ 655 milhões em fevereiro coloca dúvidas sobre a eficácia da nova tarifa.
Até o início de março, a moeda norte-americana oscilava em torno de R$ 0,85. No dia 10, no fim de uma turbulenta semana, o Banco Central estabeleceu que o dólar poderia variar entre R$ 0,88 e R$ 0,93.
A mudança nos limites informais que vigiam desde o final do ano passado foi entendida como sinal de que novas alterações poderiam ocorrer. E, pelo menos até o momento, a desvalorização por si só não se mostrou capaz de conter a fuga de capitais. Saíram do país US$ 3,9 bilhões só este mês. Anteontem, as saídas financeiras líquidas foram de US$ 209 milhões, contra saídas diárias de US$ 5 milhões em média nos últimos 12 meses.
O governo argumenta que, além das medidas já adotadas nas áreas comercial e cambial, se espera uma redução nas importações devido ao desaquecimento da economia. O ajuste fiscal e os juros altos impediriam que a atividade econômica mantivesse o ritmo atual e isso inibiria naturalmente as importações.
A lógica está correta. Mas as grandezas são desproporcionais. Em um ano as importações dobraram, enquanto a economia cresceu menos de 6%. Em fevereiro de 1994 o Brasil importou US$ 2,03 bilhões. No mês passado, as compras externas chegaram a US$ 4,05 bilhões.
Não há motivo para alarmismo. Mas o governo não pode tampouco ignorar a gravidade da situação externa. Passaram-se já três meses do início da crise mexicana. É uma aventura tolerar a manutenção de déficits comerciais.

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