São Paulo, domingo, 26 de março de 1995
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Governo faz ofensiva no rádio e TV pela reforma

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo vai lançar uma campanha publicitária para conter as reações contra a reforma constitucional. O secretário de Comunicação, Roberto Muylaert, disse à Folha que o Ministério da Previdência e o Banco do Brasil vão patrocinar as primeiras campanhas que serão veiculadas em "poucas semanas".
A falha na comunicação do governo foi um dos principais problemas detectados na reunião ministerial realizada anteontem na Granja do Torto.
Na avaliação do presidente Fernando Henrique Cardoso, o governo tem produzido mais "ruído que mensagem" na tentativa de explicar suas propostas.
Essa falha tem atingido até a credibilidade do Plano Real. A estratégia do governo é ocupar mais espaço na mídia e no Congresso Nacional, onde o relacionamento com os políticos aliados também é considerado deficiente.
Pronunciamentos de FHC e dos ministros deverão ser veiculados diariamente na programação das emissoras de rádio e televisão do sistema Radiobrás.
Filmetes publicitários também estão sendo preparados para divulgação nos dez minutos de que o governo dispõe gratuitamente nas emissoras privadas a cada dia. As primeiras campanhas tratarão das propostas de abertura da economia e da reforma da Previdência.
Considerada a parte mais polêmica e mal explicada da reforma constitucional, as mudanças no sistema previdenciário serão explicadas por uma campanha do Ministério da Previdência.
A campanha já foi aprovada pela Secretaria de Comunicação e depende apenas da liberação de verbas do Ministério.
"Parece que o otimismo não está contaminando toda a sociedade", avaliou o ministro da Previdência, Reinhold Stephanes. Ele atribui a resistência à reforma do sistema previdenciário aos que não querem perder privilégios. A campanha vai insistir que os direitos adquiridos estarão assegurados.
O Banco do Brasil também trabalha na divulgação de uma campanha em defesa do Real, que vinculará o sucesso do Plano às reformas propostas pelo governo.
Segundo Roberto Muylaert, a iniciativa privada está interessada em participar da ofensiva, reforçando na mídia a necessidade das reformas.
A ofensiva publicitária, elaborada pelo secretário Muylaert, não foi debatida na reunião ministerial. No relato que fez ontem sobre o encontro, o porta-voz Sergio Amaral disse que o governo não deve fazer uma campanha publicitária.

"Tropa de choque"
Ao longo da semana passada, deputados governistas na Câmara reclamaram da falta de orientação do próprio governo para defender as propostas de reforma constitucional.
A "tropa de choque" formada por ministros e técnicos, enviada ao Congresso na semana passada para defender as reformas, fracassou.
O saldo final mais evidente foram bate-bocas com deputados, vaias, xingamentos e as lideranças governistas criticando o governo.
Na prática, uma derrota clara: a emenda que propõe modificar a Previdência sequer passou pela primeira etapa da tramitação na Câmara.
Contra a vontade do governo, a emenda terá de ser dividida antes de a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) decidir se será aceita ou não (admissibilidade).
"O governo tem de deixar claro o que quer. O ministro Sérgio Motta (Comunicações) esteve aqui, mas não resolveu nada. Disse que a reforma pode ser tudo, mas queremos saber o que o governo deseja", afirmou o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA).
O deputado é o relator da emenda que propõe a flexibilização das telecomunicações. "Quero ajudar o governo, mas isso significa que o governo também precisa nos convencer de suas propostas", disse Lima, que defende uma ofensiva por parte do governo.

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