São Paulo, domingo, 26 de março de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Campeonato reflete marasmo programado

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Este campeonato é um baile de Carnaval da era da TV: todo mundo finge que está se divertindo muito, sempre que os refletores se acendem e o olhinho vermelho da câmera focaliza o grupo de foliões.
Em seguida, voltam àquele olhar perdido no horizonte do salão e ao vaivém impessoal dos quadris no ritmo distante e monótono da velha marchinha.
A atual fase do torneio não vale nada, e ninguém haverá de me convencer que o tal pontinho extra conta muito, a não ser no estímulo à retranca daquele que dele se beneficia e que teoricamente seria o melhor, portanto o mais apto a atacar e oferecer um belo espetáculo nas finais.
Por isso mesmo, a mídia e a torcida passam o tempo todo buscando algo que possa despertar a paixão represada, nesse marasmo programado.
Eis por que esse revezamento constante no topo da tabela, às vezes ocupado por um contingente de times, se transformou na grande atração de um campeonato disputado em estádios arruinados e diante de meia-dúzia de abnegados.
Mesmo as causas do rodízio de líderes são discutíveis. Os grandes favoritos —Palmeiras, Corinthians e São Paulo— disputam, ao mesmo tempo, vários torneios, e tentam conciliar a impossibilidade humana de vencer tudo com o desafogo da pressão exercida por torcidas que não aceitam menos do que isso. Isso pode explicar em parte as lideranças exercidas por Portuguesa, Santos, XV de Piracicaba, Araçatuba etc.
Pegue-se o caso do Araçatuba, um livre-atirador no certame, sem nenhuma responsabilidade, a não ser escapar do rebaixamento. Pois vinha lá na rabeira, humilhado por seguidas goleadas, quando, ao contratar o técnico Vadão, escorraçado do Guarani, que de favorito virou zebra logo nas primeiras rodadas, com apenas três vitórias seguidas, subiu o Olimpo. Mas, logo em seguida, despencou, diante da Lusa, que ainda outra noite pespegou-lhe 5 a 3.
Aqui entra a história dos três pontos por vitória simples. Digamos que um time perca, de goleada, dando vexame, três jogos seguidos. Emende essa tragédia com três vitórias de 1 a 0, duas de pênalti e uma com um gol impedido que o juiz não deu.
Nesses três jogos, levou um baile dos adversários, bolas na trave etc. Ao cabo dos seis jogos, somou nove pontos. Já outro, esbanjou categoria, mas não deu muita sorte: empatou cinco jogos e ganhou apenas um. Resultado: fica abaixo do outro. Mas, se é essa a lógica do cartola, que fazer?

Quanto ao sistema de disputa, basta comparar com o futebol carioca: lá, disputaram-se dois turnos pela Taça Guanabara. O Flamengo ganhou o primeiro e o Bota o segundo. Ambos se encontraram na noite de quinta, Maracanã lotado, e nos ofereceram um show de emoção.
E Romário, novamente, provou que atua numa outra faixa de frequência inaudível aos ouvidos comuns, marcando os três gols de seu time, e o Bota por pouco não chega à virada histórica.
E nós?

Texto Anterior: F-1 faz hoje 'GP-laboratório'
Próximo Texto: Rebelião à vista
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.