São Paulo, segunda-feira, 27 de março de 1995
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Meninos criam peças de arte sacra

HEITOR MENEZES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM VISEU (PA)

Meninos entre 10 e 18 anos, que provavelmente iriam engrossar as gerações de pescadores e lavradores de Viseu (310 km a nordeste de Belém-PA), estão sendo transformados em artistas plásticos.
Eles produzem peças de arte sacra, resultado do que aprendem na Escola de Artes Plásticas São Lucas, fundada em 1992 pelo padre italiano Carlos Verzeletti, 45, há 12 anos o pároco da cidade.
Parte do que os garotos já produziram —desenhos e esculturas de barro e madeira— está na escola e na igreja de Nossa Senhora de Nazaré, na praça central de Viseu.
Verzeletti disse que decidiu criar a escola depois de conhecer a vida dos adolescentes de Viseu: ociosos e sem perspectiva de trabalho, resultado da pobreza e do atraso econômico do município, situado às margens do rio Gurupi, na divisa com o Maranhão.
O embrião da escola começou a se formar em 1990, quando o padre conseguiu recursos para restaurar a igreja e resolveu começar pelas portas.
Na beira do rio, ele encontrou um pescador trabalhando com uma enxó, instrumento de carpintaria usado para desbastar madeira.
O pescador, Wilson Jorge da Silva, 34, foi convidado para esculpir as novas portas da igreja, de ipê, a partir de desenhos feitos por Verzeletti.
Depois de várias tentativas e da insistência do padre, o pescador conseguiu reproduzir figuras e passagens dos evangelhos em alto-relevo.
Com a ajuda de amigos italianos, Verzeletti mandou Silva para a Itália, onde ele passou quatro meses estudando e visitando museus e estúdios de artistas plásticos.
Ao voltar, Silva foi nomeado coordenador da escola de artes. Em pouco tempo de atividade, os alunos da escola foram chamados para restaurar a igreja de Bragança, município vizinho.
Outro grande trabalho encomendado aos pequenos mestres de Viseu foi um novo altar para a Basílica de Nazaré, em Belém.
Os 50 estudantes frequentam a escola de arte em um período e a escola pública em outro.
Na escola de arte, aprendem história da arte, desenho artístico, geometria, anatomia e recebem noções das escolas grega, romana, maia e asteca.
Eles aprendem a desenhar seguindo os princípios da proporção e da dimensão. Depois, transformam o desenho em modelo de argila e a seguir trabalham com a madeira, dando forma às esculturas.
O objetivo de Verzeletti é que a Secretaria de Educação do Pará reconheça oficialmente a escola e pague os salários dos professores que ele pretende levar para Viseu.

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