São Paulo, segunda-feira, 27 de março de 1995
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A evasão de cérebros

RUBENS CECCHINI

Dados obtidos junto ao principal órgão internacional de documentação científica, "Institute for Scientific Information", colocam o Brasil numa posição de absoluto atraso na área tecnológica, comparando com os países desenvolvidos.
É claro que isto merece uma avaliação mais profunda de suas causas. Não vou deter-me na análise desta questão. Gostaria apenas de dizer que os grandes responsáveis por este atraso são os governos, que desprezam a educação básica, quer pela falta de recursos para o desenvolvimento científico e tecnológico, quer pela incompetência e irresponsabilidade dos políticos deste país.
Um exemplo da falta de visão destes políticos pode ser verificado na atual proposta de mudanças da Previdência Social. Há um item que propõe pura e simplesmente a proibição da recontratação de servidores aposentados.
Muitos, principalmente os filhos do nepotismo e do apadrinhamento imoral, não deveriam nem estar no serviço público, muito menos ser recontratados. Contudo, a medida atinge também servidores altamente qualificados e competentes e que gostariam de continuar e deveriam ser incentivados a oferecer sua contribuição ao país.
Tomo como base de argumentação os professores/cientistas das universidades e institutos. Tem havido um aumento explosivo na solicitação de aposentadorias por parte destes professores. Com o impedimento da recondução ao serviço público (defendo a proposta de retorno somente através de concurso público ou outro critério de mérito), as projeções mais otimistas indicam que as universidades brasileiras perderiam um número elevado de seus docentes titulados e experientes, em menos de três anos. Levaria no mínimo de 10 a 15 anos para a recuperação desta massa intelectual.
Num momento em que a alavanca do progresso tem seu ponto de apoio no domínio e criação de tecnologia e saber e na qualidade total de seus serviços, o país vira as costas para seus professores/cientistas e outros competentes servidores como que dizendo: "o país não precisa de vocês, sem vocês vamos muito bem, obrigado".
Muito se lamenta a grande perda de intelectuais que o Brasil sofreu nos anos da ditadura militar. Hoje, em plena democracia, corremos o risco de assistir à maior evasão de cérebros que o Brasil jamais presenciou e por pura insensibilidade e falta de visão de nossos políticos.
É preciso preservas as competências ao mesmo tempo em que se elimina os ineptos, incompetentes e apaniguados do serviço público. Somente assim, evitaremos que esta medida irresponsável seja mais uma dentre as muitas já existentes que têm condenado o país ao subdesenvolvimento.

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