São Paulo, segunda-feira, 27 de março de 1995 |
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SP italiana não é o Bixiga, diz Canevacci
DANIEL PIZA
Palestrantes: Massimo Canevacci (antropólogo), Adelina Alette (tradutora) e Annateresa Fabris (professora de História da Arte na USP) Onde: Centro Cultural São Paulo (r. Vergueiro, 1.000, tel. 011/277-3611, região central) Quando: hoje, às 19h30 A próxima vítima do antropólogo italiano Massimo Canevacci é a Rede Globo. Ele está em São Paulo para combater o estereótipo do imigrante italiano que as telenovelas exploram e amplificam. "A comunicação de massas vive dos estereótipos", disse à Folha na última sexta. É isso que dirá hoje, no Centro Cultural, na palestra "Estereótipos e Inovações". "Esse estereótipo do imigrante italiano, com aquela comida e música, é equivocado como vários outros estereótipos sobre a cidade. Todo italiano que vem estudar São Paulo só pesquisa o Bixiga —ou as favelas", diz. Entre os outros estereótipos elenca, a partir de dois artigos recentes do jornal romano "La Repubblica", a visão de São Paulo como uma metrópole tipicamente terceiro-mundista, tomada por marginais e meninos de rua. "Isso é uma parcialidade", diz. Cita como contra-exemplo um seminário recente, na embaixada do Brasil em Roma, com intelectuais brasileiros que julgou "sofisticados, cosmopolitas e firmemente radicados no Brasil". Mas não é bem por aí, pelo ângulo socio-econômico, que Canevacci vai expor sua leitura desses estereótipos hoje. O autor de "A Cidade Polifônica" (editora Nobel, 1993), livro sobre São Paulo, está interessado na comunicação entre as classes e culturas. "O destino de São Paulo não é o de uma cidade industrial, mas pós-industrial, voltada à cultura, ao consumo, à comunicação." Canevacci rejeita a opinião de que há uma "polarização" social crescente (cada vez mais BMWs e mais mendigos) em São Paulo. "A cidade tem uma grande estratificação social. Há vários segmentos entre as extremidades." Para ele, a babel paulistana não tende a um empobrecimento das individualidades, pelo contrário. "São Paulo, espero, terá uma pluralidade cada vez maior de experiências. A cidade pós-industrial, como um shopping center, é uma 'metrópole sem fronteira'; há de tudo ao mesmo tempo." É por esse prisma que ele acha, por exemplo, que o caso da preservação do centro histórico deve ser observado. "O centro tem de ser modificado e não, como em Roma, permanecer intocado." Ele sugere mais calçadões ("São Paulo é talvez a única metrópole do mundo onde não se tem o hábito de andar"), mais metrô ("O metrô em São Paulo é como a ferrovia no Brasil, retrato de uma classe dirigente isolada da sociedade") e muito mais discussão sobre os diversos "centros" da cidade ("A ligação da avenida Faria Lima com a Berrini revolucionaria a comunicação urbana"). Canevacci aponta a arquitetura italiana em São Paulo como uma das vozes mais úteis para "ouvir a cidade". "A história da arquitetura dos italianos mostra como o estereótipo dos imigrantes é falso. Várias gerações estiveram aqui, não só aquela que fez o Bixiga." Para ele, a presença italiana é "polifônica", mas a mídia tende a restringi-la e estereotipá-la. Texto Anterior: HOLLYWOODIANAS Próximo Texto: Ótimo concerto marca estréia do novo piano do Municipal Índice |
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