São Paulo, terça-feira, 28 de março de 1995
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Ciência engendra a tragédia

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Quando foi lançado nas salas de cinema, "Videodrome - A Síndrome do Vídeo" (Globo, 0h) confirmava a impressão de estranheza deixada por "Scanners - Sua Mente Pode Destuir", realizado dois anos antes pelo diretor canadense.
Hoje, sua obra difundiu-se, foi possível ver o que havia feito antes (produções em geral mínimas) e depois. Uma obra que chama a atenção pela coerência, mais do que pela frequência com que monstros inéditos batem ponto ali.
"Videodrome" começa com o programador de um canal de TV especializado em piratear programas via satélite, Max Renn (James Woods). Siderado com as cenas de sadomasoquismo que presencia, ele começa a procurar sua origem. Quanto mais procura, mais se afunda em um mistério que parece já não dizer respeito apenas ao programa, mas à imagem em geral. E, mais do que à imagem, ao próprio homem.
A TV, esse universo de "diversão", transforma-se em matéria de obsessão para o programador. Daí ele passa ao território do pesadelo tecnológico. É o ser às voltas com máquinas que estendem e desafiam os limites do humano. Em determinado, esses limites se abatem sobre ele, com uma violência tão perversa quanto aquela empregada pelo homem em sua busca.
No caso, estamos no registro do sagrado. A imagem —algo sagrado—, tornada profana pela TV. Contra isso, resta o recurso de procurar o professor O'Blivion, uma espécie de McLuhan de plantão. Maneira de dizer que essas grandes investidas que representam conhecimento exigem um novo conhecimento para dominá-las, para trazê-las ao território do entendimento.
"Videodrome" é um dos mais apaixonantes filmes dos anos 80, feito por esse que talvez seja o mais independente dos cineastas contemporâneos.
(IA)

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