São Paulo, terça-feira, 28 de março de 1995
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Bryan Ferry traz romantismo "cool"

DANIELA ROCHA
ENVIADA ESPECIAL A SUNRISE

O inglês Bryan Ferry, aos 49 anos, é um fenômeno no palco. Em um supershow, realizado no último fim-de-semana em Sunrise, na Flórida, ele arrastou 4.000 pessoas ao Sunrise Music Theatre, um auditório com acústica para ninguém botar defeito.
"Mamouna" é a turnê de lançamento de seu novo disco, homônimo, mas o show é um compilado de músicas que inclui produções da extinta banda Roxy Music, expoente do pop dos anos 70.
Ferry levou mais de um ano para finalizar "Mamouna". Neste show, que será apresentado em Curitiba (dia 3), São Paulo (de 4 a 6 de abril) e no Rio (9 de abril), Ferry mostra que é um romântico incurável em letras sofisticadas e cuidadoso no arranjo e produção.
O resultado é um show impecável de mais de duas horas e meia de duração, com 18 músicas e apenas três do novo álbum. Entre as novas, Ferry canta "Your Painted Smile", a quarta música do show, apresentada após as consagradas "Spell on You" e "Slave to Love". Logo na primeira estrofe, Ferry arranca suspiros: "Too fast to live/ too young to die/ One stolen kiss babe/ a certain smile".
Em visual "cool", calça de couro preta e camisa branca, cabelos que caem sobre seu rosto e que são cuidadosamente levados para trás, Ferry faz o gênero intimista apaixonado que leva mulheres e homens ao delírio, principalmente pelo seu carisma com o público.
Tudo isso em um show que abre com perfume de incenso e com luz negra sobre o público até que surja lentamente no palco sua silhueta.
Em "Spell on You", Ferry joga purpurina ao alto, que cai refletindo as luzes vermelhas e amareladas. A iluminação é um dos pontos altos do show. Usando os recursos básicos, a luz dá o tom certo ao clima intimista. O cenário nada mais é do que jogo de luz sobre uma lona que lembra uma tenda. Os motivos estampados são luas, estrelas e símbolos do mundo árabe, inspiração gráfica do encarte e programa do novo álbum.
A banda é um show à parte. O lendário guitarrista Robin Trower, co-produtor dos álbuns "Taxi" (só com covers, de 1993) e "Mamouna", faz solos de guitarra de tirar o fôlego em "Out of the Blue" e "Editions of You".
No teclado toca Guy Fletcher, que acompanhou Ferry na turnê de "Avalon" (Roxy Music, 1982) —aliás, a música "Avalon" é apresentada no bis, em que Ferry toca gaita. Melvis Lee Davis faz um solo de baixo que deixa o público em êxtase. Na bateria, Alvino Bennett, que tocou com B.B. King e Soul 2 Soul, e David Williams, que tem em seu background de gravações nomes como Herbie Hancock, Michael Jackson e Madonna. Fecha o grupo a backing vocal Audrey Wheeler.
Em resumo, o show é uma viagem de sons, aromas e luzes, em um resultado estético que faz lembrar um templo, onde o público passa quase três horas em contemplação, enquanto dura o show.
No programa de "Mamouna", Ferry descreve em textos seu cuidado na composição, seu senso autocrítico e uma sensibilidade para arranjo e pesquisa musical.
Este show, que já passou pelo Japão, Europa e Austrália, tem um formato único. "No Brasil não vai ser diferente", disse. Foi ele quem escolheu o Brasil para fechar sua turnê internacional de lançamento de "Mamouna".
"Sempre quis ir ao Brasil, e devo aproveitar um dia livre para conhecer um pouco de sua música", afirmou durante uma recepção oferecida após o show, em que foi assediadíssimo. Afinal, ele tem o status de ser um ícone do pop.

Programa
Como toda superprodução americana, o show de Bryan Ferry não poderia ser diferente. Na entrada do auditório em Sunrise, eram vendidos camisetas, moletons e programas de "Mamouna".
O programa custa US$ 18 e não deve ser vendido no Brasil. Nele estão fotos colorias e preto-e-branco do cantor caminhando por ruas de Marrocos, textos inéditos de Ferry e letras das composições que integram o álbum "Mamouna".
Leia a seguir trecho de um de seus textos.

"O que adoraria fazer é um álbum de músicas antigas, como 'These Foolish Things', que é dos anos 30, de um período em que compor e gravar eram atividades diferentes. Agora tendem a ser a mesma coisa. Muitos discos são mais de produtores do que de compositores e letristas. É difícil encontrar o equilíbrio, creio, quando você procura algo que seja contemporâneo, mas você quer que a música sobreviva nos próximos cinco ou dez anos."

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