São Paulo, quarta-feira, 29 de março de 1995
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Cresce adesão à greve na rede de ensino de São Paulo

FERNANDO ROSSETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

A adesão à greve na rede estadual de ensino de São Paulo aumentou ontem, embora nem governo nem as entidades que lideram o movimento tenham dados precisos a respeito.
A secretária de Educação, Rose Neubauer, 50, afirmou que a paralisação "não chega a 40%" das 7.000 escolas. A Apeoesp (o sindicato dos professores) estimou que, em média, 60% dos 260 mil professores aderiram à greve.
Se 40% dos professores não estiverem dando aulas, cerca de 3 milhões de alunos estão prejudicados. Se forem 60%, chega a 4 milhões os estudantes sem aulas.
O dia foi de impasse ontem. Espera-se uma reunião entre grevistas e governo hoje ou amanhã, para que seja possível suspender a greve na assembléia de sexta-feira à tarde, no Palácio dos Bandeirantes (sede do governo do Estado).
O governo reconheceu ontem que não está gastando o previsto na lei orçamentária com a folha de pagamento do ensino de primeiro grau do Estado.
Pelo orçamento, deveria-se gastar nesse item 20,09% da cota do Estado da arrecadação do ICMS (o imposto responsável pela maior parte dos recursos do governo).
Em janeiro, o governo gastou 10,65% dessa verba e, em fevereiro, 11,79%, segundo dados da Apeoesp. O governo não refuta esses dados. Diz que, se forem incluídos os aposentados (21% da folha de pagamentos da educação), o gasto ficaria entre 14% e 15% da cota do Estado do ICMS.
"Isso não pode acontecer. Estão tirando dinheiro da Educação para pagar outras contas", afirmou a deputada estadual Bia Pardi (PT).
A secretária de Educação disse que, até o final do ano, pretende chegar ao gasto médio no ano previsto pela lei orçamentária (20%).
Essa discussão está no cerne do impasse na greve, que hoje entra no terceiro dia. O piso atual, por 20 horas semanais de trabalho, está em R$ 111; mas com gratificações e abonos fica em R$ 141.
O governo propõe elevar o piso —incluindo gratificações e abonos— para R$ 180. Mas só o piso. Pela proposta, quem estiver recebendo acima de R$ 180 terá pouco ou nenhum reajuste.
Os grevistas reivindicam piso de R$ 210, o que representa um reajuste de 49% do piso real atual. Só que estes 49% seriam dados a todos os níveis da carreira.
É aí que está o problema: com o dinheiro a mais que o governo está oferecendo (R$ 17 milhões por mês até maio e R$ 23 milhões por mês até agosto) só dá para reajustar razoavelmente os níveis inferiores da carreira.
"Se a lei orçamentária estivesse sendo cumprida daria para dar o reajuste para todos", diz Roberto Felício, 43, da Apeoesp.
Mas o governo diz que está no limite do possível, diante do quadro de falência que recebeu.

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