São Paulo, quarta-feira, 29 de março de 1995
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Oscar consagra Hanks e o 'novo Spielberg'

ANA MARIA BAHIANA
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES

A vitória de "Forrest Gump - O Contador de Histórias" na festa do Oscar, realizada anteontem no Shrine Auditorium, em Los Angeles (EUA), era cristalina até mesmo para o mais míope dos oráculos. Mas foi, na verdade, um pouquinho menor do que a esperada.
"Forrest" converteu em estatuetas seis das suas 13 indicações —as certeiras e as mais importantes, como filme, direção (Robert Zemeckis), ator (Tom Hanks), roteiro adaptado, efeitos e montagem. Mas deixou escorregar algumas outras que seriam bem-vindas à vitória —trilha musical e direção de fotografia, por exemplo.
A premiação consagra, principalmente, Zemeckis —afilhado de Spielberg, de quem recebeu o Oscar e com quem partilha o gosto pela ação e as grandes bilheterias— e Hanks, que entra no clube dos bi-oscarizados consecutivos, antes frequentado apenas por Spencer Tracy.
Bem fez o ex-apresentador Billy Crystal, grande conhecedor do Oscar: ficou em casa, vendo a entrega pela TV, decidido a ir a apenas uma festa pós-premiação. Com essa sábia decisão, mostrou que tinha dois fatos como certos: a vitória de "Forrest" e a derrocada da festa do Oscar, uma das mais óbvias, caóticas e tediosas já (des)organizadas pela Academia desde o festival de mau gosto de 1989.
A única surpresa foi a vitória do filme russo "Revelações de uma Bola de Fogo", que quase nenhum acadêmico viu —não por má vontade, mas porque havia apenas uma cópia disponível aos eleitores. E, já que estamos no departamento das coisas obscuras, é bom apontar o fato de que o documentário vencedor ("Maya Lin: A Strong Clear Vision") foi produzido pela ex-presidente do comitê de documentários da Academia.
Até o papo de bastidor foi morno, com as platitudes emocionadas de sempre —"fazer este filme foi a experiência mais alegre da minha vida", Robert Zemeckis; "as pessoas torcem pelos personagens mais fracos", Eric Roth; "na verdade (ganhar um Oscar) é um momento muito íntimo que se desenrola na frente de bilhões de espectadores", Tom Hanks.
Para aquecer um pouco as coisas, só mesmo a figurinista premiada de "Priscilla, a Rainha do Deserto", informando que usara 250 cartões de crédito para confeccionar seu vestido, isso depois de abandonar a idéia de fazer uma colagem de frutos do mar.
Ou Quentin Tarantino, em seu estilo "Cães de Aluguel", dizendo que crítico de cinema mesmo só Pauline Kael, a decana aposentada da crítica do "New York Times" —"ela informou minha imaginação, meu inconsciente".
Fora isso, o consenso era de que a Academia precisa, mais uma vez, dar uma séria repensada nos Oscars —que o cenário era uma pobreza, que David Letterman não funcionou como apresentador, que as gafes eram numerosas demais para serem enumeradas.
E que, da grosseria no credenciamento da imprensa —a "Première" francesa foi barrada, mas a tenda dos jornalistas tinha um correspondente do Paquistão e uma drag queen da revista gay bimensal "Out"— ao caos reinante nos bastidores —superlotados e com os telefones eternamente em pane— o Oscar, como evento de mídia, ou toma jeito ou está em vias de se tornar uma espécie em extinção.
LEIA MAIS sobre o Oscar às págs. 5-3, 5-4 e 5-8

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