São Paulo, quarta-feira, 29 de março de 1995
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Invasores causam medo a usuários de redes de microcomputadores

MARINA MORAES
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE NOVA YORK

Podem chamar de efeito Kevin Mitnick, o tal hacker capturado pelo FBI por invadir computadores alheios atrás de informações sigilosas. O que era tratado de forma folclórica pela imprensa agora virou obsessão para os infonautas americanos: segurança dos micros.
Não passa uma dia sem que a imprensa daqui levante um assunto de tirar o sono de quem vive em função das engenhocas. O mais recente tem a ver com quatro estudantes universitários, que se conheceram on line na Internet e passaram a planejar uma fraude envolvendo números falsos de cartões de crédito.
Há alguns dias, os quatro foram presos e acusados de dar um rombo de cerca de US$ 100 mil comprando todo tipo de produto com cartões inexistentes. Um golpe eletrônico de que se vai ouvir falar cada vez mais, pelo menos aqui nos Estados Unidos.
Não é de hoje que o americano usuário de cartão toma lá os seus cuidados. Por exemplo, pede sempre ao lojista a cópia do carbono que sobra nas transações. Depois de fuçar no lixo das lojas, é dali que muitos fraudadores tiram dados para aplicar seus golpes.
Hoje em dia, cada vez mais é possível fazer compras sem apresentar fisicamente o cartão. Principalmente em alguns shopping centers eletrônicos. Você faz a encomenda on line, dá os dados para "pendurar" na sua suposta conta e pode receber a encomenda pelo correio.
Na casa dos gajos, a polícia descobriu um depósito onda havia de tudo: de tênis a jóias, de bonecas a peças de computador. Eles davam como endereço números de caixa postal em lugares remotos, recolhiam as encomendas e desapareciam do lugar.
A polícia investiga o caso porque aparentemente envolve o uso de um programa que anda sendo distribuído de graça, para quem quiser, na Internet. É um software chamado "Credit Master", que permite a qualquer pessoa criar um número de cartão de crédito que parece verdadeiro, mas não é.
Quem imagina que os números do Visa, Mastercard ou American Express são atribuídos por acaso se engana. Eles são compostos por uma série de códigos, a começar pelo que identifica o banco de origem e terminando por um dígito que resulta de uma fórmula matemática.
O tal Credit Master ensina —a quem quiser— como criar um número que parece legítimo, embora sem nenhuma relação com um cliente de verdade. O programa, que surgiu de um desafio entre um grupo de infonautas, não é em si criminoso, mas logo surgiram os espertinhos querendo testar a eficiência dos números que criaram.
Hoje em dia, a maior parte dos varejistas americanos só vende on line por cartão depois de checar vários dados do cliente, como endereço e a data de validade da conta. Mas no faroeste eletrônico tem muita gente disposta a gastar tempo para enganar o sistema e, em cada mil tentativas, uma sempre pode acabar dando certo. Que o digam os irmãos Palha.
Esse tipo de golpe ajuda a explicar porque as empresas de cartão de crédito andam atrás de novas tecnologias para combater as compras fraudulentas. O sonho delas é colocar em cada domicílio um pequeno aparelho capaz de ler a cinta magnética do cartão e transmitir os dados via linha telefônica. Do outro lado da linha, o receptor do pedido teria condições de separar o joio do trigo, cruzando os dados do cartão com os do dono da conta. Por enquanto, o efeito mais visível do golpe é ter acrescentado outra palavra ao já inchado dicionário da informática: cuidado, que os micropiratas estão à solta.

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