São Paulo, quinta-feira, 30 de março de 1995
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"Mercado acabou", afirma importador

DA REPORTAGEM LOCAL; COM SUCURSAL DE BRASÍLIA

Preços devem subir até 38%, concessionárias decidem suspender as promoções e vendas poderão cair 50%
O aumento de 32% para 70% na alíquota de importação de veículos deixou estarrecidos os representantes de marcas estrangeiras no país.
"Agora degringolou. Acabou o mercado de importados". Essa foi a reação de Carlos Alberto de Oliveira Andrade, presidente do grupo Caoa, importador oficial dos carros franceses Renault, minutos após receber a notícia.
O ministro Pedro Malan disse que a "medida é temporária". Ele afirmou ainda que "a elevação da alíquota não representa um retrocesso no processo de abertura comercial do país. A abertura é irreversível", disse Malan.
"Foi totalmente inesperado. Sabíamos que vinha alguma coisa, uma alíquota de 50% talvez, mas não isso", disse Andrade.
Atônito, Sérgio Habib, presidente da Citro‰n do Brasil, também afirmou que a medida acaba com a venda de importados.
"Temos 6.000 carros encomendados, ainda não embarcados. Não sei como resolver isso", afirmou.
Ele acredita que os preços dos importados vão subir na mesma proporção que o aumento das alíquotas —um acréscimo de 38%. Hoje, o carro mais barato da Citro‰n custa US$ 25 mil.
Habib disse que já foram investidos US$ 30 milhões no país desde 91, quando começou a importação. Hoje, a Citro‰n tem 16 concessionárias no Brasil.

Aumento de preços
O presidente da Renault brasileira começou a dar telefonemas para a rede de concessionários logo após receber a informação.
As primeiras decisões: suspender uma promoção que estava sendo preparada e aumentar os preços a partir de hoje.
"Vamos aumentar os preços entre 20% e 30%/. Isso vale também para os carros já desembarcados. Amanhã (hoje) já é outro preço.Temos que nos preparar para a realidade".
Se o reajuste chegar a 30%, um Twingo, por exemplo, que chegou ao mercado para competir com os "populares" nacionais, sobe de US$ 16.900 para US$ 21.970 (cerca de R$ 19.800), preço de tabela de um Monza GLS quatro portas.
O Renault 19 RN, modelo mais vendido da marca, subiria de US$ 22.500 para US$ 29.250 (R$ 26.300) e entraria na faixa do Vectra GLS e Santana GLS.
O Pointer e o Logus, até agora competidores diretos do Renault 19, ficam até R$ 8.000 mais baratos que o carro francês.
Segundo Andrade, a Renault leva vantagem em relação aos concorrentes importados porque está com grande estoque no país —cerca de 4.000 unidades. "Quem está desabastecido sai perdendo", diz.
Em uma avaliação inicial, Andrade prevê queda de 50% na venda dos carros importados.
Para Eufrasio Pereira Luiz Junior, da Eufrasio Veículos (revenda Ford), a nova alíquota inviabiliza a venda de carros importados.
Os veículos europeus, que já estavam mais caros devido à valorização do marco alemão, serão os mais afetados, diz Eufrasio.
"É uma decisão absurda", afirma Eufrasio. Para ele, o governo deveria conter a importação reduzindo o IPI do carro nacional.

Colaborou a Sucursal de Brasília

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