São Paulo, sábado, 1 de abril de 1995
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Ex-assessor denuncia aliança com empresa

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
DA REPORTAGEM LOCAL

A parceria entre o grupo Ticket e o presidente da Força Sindical, Luiz Antônio de Medeiros, rendeu ao sindicalista uma viagem a Paris e Portugal, em janeiro de 91, e o apoio financeiro com US$ 50 mil em bônus eleitorais na última eleição a governador do Estado. Teria rendido ainda, segundo afirmou à Folha Wagner Cinchetto, ex-assessor do presidente da Força Sindical, US$ 50 mil para ajudar a chapa de Medeiros nas últimas eleições para o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, em 93.
"O cheque foi depositado na agência matriz do Banco Cidade em São Paulo", disse Cinchetto.
Além disso, segundo ele, o grupo Ticket teria comprado também feijão de uma filial da Florada Comércio, Importação e Exportação de Produtos Agropastoris em Itaí, região de Avaré, interior de São Paulo. Cinchetto já havia dito à Folha que o grupo Ticket comprou café da Florada.
Cinchetto denunciou "esquema paralelo de Medeiros" com exclusividade à Folha na semana passada e retrasada.
Segundo Cinchetto, Medeiros teria arrecadado junto a empresas cerca de US$ 2 milhões a partir de 90. A participação na Florada, segundo o ex-assessor, foi adquirida com esses recursos.
PAT
"O grupo Ticket fez todas essas doações porquê nós chegamos a trabalhar num projeto, o PAT (Programa de Alimentação do Trabalhador), conjuntamente", disse o ex-assessor.
O presidente do grupo Ticket, Firmin Antônio, nega.
A partir de 91, o governo do ex-presidente Fernando Collor de Mello mudou a legislação do PAT. Empresas que forneciam cestas básicas a seus funcionários passaram a ser enquadradas no programa. Há dedução de Imposto de Renda com despesas com o PAT.
O projeto de incluir a cesta-básica no PAT foi defendido pelas empresas do setor, entre elas a Ticket. Medeiros e o sindicalista Canindé Pegado também defenderam a idéia junto a Collor.
Cinchetto disse ainda que, desde janeiro de 91, a Ticket passou a fornecer vale-refeição aos funcionários do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, ligado à Força Sindical.
Quem contatou o grupo Ticket para iniciar a "parceria", segundo Cinchetto, foi Vicente Rosalia, que então trabalhava na Secretaria do Trabalho durante a gestão do governador Orestes Quércia. O grupo Ticket confirma.
Segundo Cinchetto, a idéia de criar a Florada surgiu de conversa com executivo do grupo Ticket.
"Eu me lembro que estava na sala do presidente (do grupo Ticket) Firmin Antônio, observei um folheto da cesta básica deles e vi: café, feijão, açúcar. Perguntei: 'Nossa, vocês compram o café!' Eles disseram: 'Compramos'. Aí sugiu a idéia. Se eles compram o café e se nós tivéssemos o café, poderia se fazer uma parceria."
Ainda segundo Cinchetto, viajaram a Paris e Portugal em janeiro de 91, ele e sua ex-mulher, Marcos Cará, presidente do Instituto Brasileiro de Estudos Sindicais (Ibes) e Medeiros e sua ex-mulher, Iara Couto. Eles ficaram em hotéis da rede Accor, do grupo Ticket -Mercure, em Paris, e Novo Hotel, em Portugal.

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