São Paulo, sábado, 1 de abril de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Leilões acirram competição entre editoras

DANIEL PIZA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os leilões por direitos de tradução de obras de sucesso (passado ou futuro) estão cada vez mais frequentes e sofisticados. No Brasil, deram um salto no ano passado.
"Antigamente os direitos saíam por US$ 1.000 a 3.000, raramente mais que isso", diz Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras. "Hoje eles ultrapassam isso com frequência."
Entre esses leilões, os mais caros têm sido os de obras escritas por personalidades como Bill Gates (ainda sem título), presidente da empresa de software (programas de computador) Microsoft.
Ou os escritos sobre temas contemporâneos de grande curiosidade, como a história de Kevin Mitnick, um criminoso americano que agia via computadores.
Ambos os citados foram arrematados recentemente pela Companhia das Letras. O de Gates sai no meio deste ano. O último, "Catching Kevin", de Tsutomu Shimomura e John Markoff, sai em 1996. Curiosidade: estes autores venderam os direitos de publicação do livro nos EUA, para a editora Hyperion, por US$ 750 mil. Um adiantamento inédito para escritores iniciantes.
Há também os livros que trazem revelações importantes para o conhecimento mundial, como o que dois pesquisadores britânicos preparam sobre alguns manuscritos da época bíblica que encontraram recentemente -arrematado pela editora Imago no Brasil.
Segundo apurou a Folha, os direitos de tradução desses livros foram comprados por US$ 40 mil a US$ 50 mil. São recordes.
Mas não são só esses tipos de livro que fomentam os leilões. Nomes célebres estão saindo caro também, nos últimos tempos.
Em 1993 e sobretudo 1994, leilões de escritores refinados, que têm público restrito no Brasil, giraram em torno dos US$ 20 mil a US$ 25 mil. Entre os títulos, "Operação Shylock", de Philip Roth, "O Cânone Ocidental", de Harold Bloom, as memórias de Jorge Semprún e outros.
Nesses leilões costumam participar de três a seis editoras.
A competitividade está tão acirrada que mecanismos complexos do mercado americano passaram a ser praticados por aqui.
O mais emblemático deles é a "preempty offer", uma oferta que se faz para evitar o leilão. Quando se quer um livro, oferece-se uma quantia alta, que o editor original talvez não viesse a ter igual, e dá-se um prazo para sua aceitação. O prazo pode ser de uma hora até um dia. Se o vendedor não aceita a oferta, a editora que a fez desiste do livro. Em geral, aceita-se.
A "preempty offer" também caminha na outra mão. O editor estrangeiro oferece a uma editora local, de seu gosto ou costume, comprar os direitos de um livro por X e no prazo Y -caso contrário fará a oferta a outra.
"É muito arriscado", diz Paulo Rocco, da editora Rocco, "mas o bom editor hoje é o que tem melhor índice de acertos."
Pedro Paulo de Sena Madureira, da editora Siciliano, acha que os leilões hoje estão caros apenas em alguns casos, mas não subirão além disso. "Desisti do livro do Semprún quando me pediram US$ 6.000", conta. "Esses casos são exceções."
Schwarcz, por sua vez, acha que o risco está excessivo. "Estão fazendo leilões muito caros", diz. Suspeita que o mercado mundial, daqui a alguns anos, deva entrar em recesso. Mas, por enquanto, os valores só descrevem uma curva -a de ascensão.

Texto Anterior: Estilistas realizam em Israel desfile pela paz; Ferrara inaugura museu dedicado a Antonioni; Egito revoga veredicto contra filme de Shahin; Italiano Marco Ferreri faz filme sobre cinema
Próximo Texto: Amis implanta dentes e irrita
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.