São Paulo, sábado, 1 de abril de 1995
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Missa do 31º aniversário

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - Perdido entre os anúncios fúnebres da semana que passou, havia o convite para a missa em comemoração ao 31 aniversário da "Revolução Democrática de 64". Igreja da Cruz dos Militares, templo pequeno, sentadas umas 200 pessoas. Em pé, como nos ônibus, mais umas cem.
Se tivesse tempo disponível, iria lá, dar uma espiada, embora fosse fácil saber quantas e quais as pessoas que lá estariam. Em tempos idos, nem o Maracanã e o Morumbi, juntos, abrigariam os devotos do regime. Houve mesmo a tentativa de colocar o 31 de março entre as datas magnas da pátria, como um novo 7 de setembro: o Brasil ficara independente da corrupção e da subversão.
Foi o binômio que motivou o movimento de 64. Os militares sempre consideraram a falta de honestidade na vida pública e a ruptura da ordem civil como inimigas da nação. E disso se aproveitaram as forças que, na ocasião, se sentiam acuadas por um governo que desejava fazer a reforma agrária, disciplinar a remessa de lucros e adotar uma variedade de medidas que ameaçavam a tranquilidade daquilo que a esquerda chamava de status quo.
Os militares embarcaram na canoa. Convocaram técnicos e conselheiros que dividiram as atribuições do novo poder: a parte considerada suja (cassações, repressão, tortura) ficou para os militares, que acreditavam estar em guerra santa. A parte substantiva do butim ficou para os tecnocratas -que até hoje não largaram o osso, ainda estão aí, agora comandados por uma espécie de São Paulo às avessas.
Como todos sabem, Saulo de Tarso foi a Damasco reprimir a seita cristã que ameaçava o judaísmo oficial. No meio do caminho não houve uma pedra, mas um raio que o derrubou do cavalo. Saulo transformou-se em Paulo e mudou não apenas a sua história, mas a própria história.
De FHC só se sabe, até aqui, que caiu do cavalo. Em vez de cair para o chão caiu para o alto e foi parar no Planalto. Não fui espionar a missa na Igreja Santa Cruz dos Militares. FHC deveria estar lá, senão em carne e osso, ao menos em discurso e gesto.

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