São Paulo, segunda-feira, 3 de abril de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Países da América Latina disputam dinheiro do BID

Argentina obtém US$ 600 mi; México quer US$ 2 bi

JOSÉ ROBERTO CAMPOS
ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

O megapacote de auxílio ao México e a corrida à cata de recursos empreendida pelo governo argentino deve tornar mais acirrada a disputa por recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Principais tomadores de empréstimos da América Latina estavam ontem em Jerusalém, onde se realiza a assembléia anual do BID, para discutir projetos que tragam dólares para seus países e, ao mesmo tempo, formas de conter seus antigos e incômodos aliados: os capitais especulativos.
O ministro da Economia argentino, Domingo Cavallo, conseguiu ontem um financiamento de US$ 600 milhões para melhorar a rede de ensino de seu país.
É parte dos US$ 1,5 bilhão que a Argentina precisa do Banco Interamericano de Desenvolvimento.
Cavallo termina em Jerusalém um périplo que o levou a Londres e a Tóquio, de onde arrancou a promessa de US$ 1,2 bilhão do Eximbank japonês.
Cavallo destinará cerca de US$ 2,6 bilhões a um fundo de socorro financeiro ao combalido sistema financeiro argentino -atingido por volumosos saques de depositantes e saída de capitais externos.
A conta de Cavallo tem um total de US$ 8,6 bilhões -US$ 4,4 bilhões a serem obtidos com um superávit nas contas internas.
O ministro da Fazenda mexicano, Guillermo Ortiz, participa da reunião. Estima-se que os auxílios requeridos pelo México ao BID chegam a US$ 2 bilhões.
Argentina e México necessitariam em conjunto de US$ 3,5 bilhões, pelo menos 50% da disponibilidade anual do organismo internacional, de US$ 7 bilhões.
Isto porque o BID ampliou seu capital no ano passado de US$ 72 bilhões para US$ 100 milhões. Em 94, seus empréstimos atingiram US$ 5,2 bilhões.
Resumo: se tudo ocorrer como em anos anteriores, não sobrarão muitos recursos para seus outros 28 membros carentes (vários países desenvolvidos, como os EUA, participam do banco mais como doadores de recursos. São membros do BID 46 países).
Para analisar os estragos causados pelos "capitais voadores", reúnem-se em um seminário hoje o subsecretário de Estado dos EUA, Lawrence Summers, Cavallo, Michael Bruno (um dos maiores especialistas mundiais em inflação, vice-presidente do Banco Mundial) e o ministro do Planejamento do Brasil, José Serra.
O BID analisa a concessão neste ano de financiamentos de US$ 1,6 bilhão em projetos de infra-estrutura, saneamento, transporte e educação apresentados pelo Brasil.
Em 94, o país recebeu cerca de US$ 1,13 bilhão, 20% dos total de créditos concedidos pelo BID (US$ 5,2 bilhões).
O maior projeto em exame é o de modernização e ampliação de 395 km da rodovia Régis Bittencourt. O custo total é estimado em US$ 800 milhões -o BID financiaria US$ 300 milhões.
Em estágio final de avaliação, com aprovação prevista para o primeiro semestre, estão a fase dois do Programa de Ciência e Tecnologia (US$ 160 milhões) e o programa de saneamento básico da Bacia de Todos os Santos, em Salvador (US$ 216 milhões), para controle da poluição industrial e conservação ambiental.

Texto Anterior: Paraguai apóia imposto sobre carne bovina
Próximo Texto: BBC prepara seriado baseado em 'Cisnes Selvagens' de Jung Chang
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.