São Paulo, segunda-feira, 3 de abril de 1995
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Peça mostra epopéia de jovem italiano que assassinou os pais

RODRIGO LEITE
DE REDAÇÃO

"Serial killers", prostitutas e desequilibrados de toda sorte invadem a partir de sábado o palco do Sesc Pompéia. Seis anos após sua morte, chega ao Brasil a primeira montagem teatral baseada na mais marcante obra do francês Bernard-Marie Koltès -é a "Ópera Urbana Zucco".
Koltès conta a história do jovem italiano Roberto Zucco, que assassinou os pais e se matou na cadeia. A montagem é parte do programa de lançamento da obra de Koltès no Brasil (leia texto abaixo).
A diretora da peça, Beatriz Azevedo, quer que o espetáculo tenha linguagem essencialmente adolescente. Para tanto, ela se valeu do recurso do vídeo (projetado em substituição aos cenários "clássicos"), música ao vivo e referências a programas de TV.
No início da peça, o personagem de Zucco (interpretado por Petrônio Gontijo) tem 16 anos. Ao morrer, 25. "A história dele lembra muitos outros jovens assassinos", avalia Beatriz.
Segundo ela, em um ensaio aberto realizado para adolescentes, a maioria da platéia associou a história de Zucco à do adolescente brasileiro Gustavo Pissardo, que matou os pais no ano passado.
O Roberto Zucco que inspirou o personagem do dramaturgo Koltès morreu em 1988. Pouco antes, protagonizou uma cena espetacular ao ameaçar jogar-se do telhado da cadeia em que estava preso. A imagem foi transmitida pela TV e impressionou Koltès.

ÓPERA URBANA ZUCCO
Direção: Beatriz Azevedo
Elenco: Petrônio Gontijo, Magali Biff e Adilson Barros
Quando: de 8 a 16 de abril, às 21h (domingo às 20h)
Local: Sesc-Pompéia (r. Clélia, 93, Pompéia, zona oeste de São Paulo, tel.: 011-864-8544)
Preço: R$ 10,00 (quarta e quinta) e R$ 13,00 (sexta a domingo). Meia-entrada para estudantes

"Os heróis são criminosos. Não existem heróis cujas roupas não sejam sujas de sangue, e o sangue é a única coisa do mundo que não pode passar despercebida. É a coisa mais visível do mundo. Quando tudo estiver destruído, quando só tiver uma bruma de fim de mundo cobrindo a terra, vão ficar ainda as roupas sujas de sangue dos heróis. (...) Nada vai poder mudar o curso das coisas, meu senhor. Eu sou como um trem que atravessa tranquilamente uma pradaria e que nada poderia fazer com que descarrilasse. Eu sou como um hipopótamo afundado na lama, que se movimenta muito devagar e que nada poderia desviar do caminho nem do ritmo que ele decidiu tomar."
(Fala de Roberto Zucco, em "Teatro de Bernard-Marie Koltès")"

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