São Paulo, segunda-feira, 3 de abril de 1995
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Deixe o olho no futuro e uma mão no bolso

MARCELO PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

É ligeiramente frustrante o ato banal e absolutamente necessário, nos dias de hoje, de se comprar um computador. Sabe-se que está se comprando e, no caso brasileiro, pagando-se caro por algo que ficará obsoleto em dois anos. E pensa que vai mudar?
Nadica. Continuaremos por muito tempo trocando nosso amado equipamento por um mais novo; ou, para ser mais exato, mais veloz. Isto porque a eficiência das pesquisas na área da informática, diretamente proporcional ao dinheiro investido, tem provado que a cada 18 meses, consegue-se fabricar um chip duas vezes mais veloz que o anterior. Quem já pratica a "informatia" há tempos sabe o quanto pesa no bolso ficar trocando de XT para AT para 286 para 386 e então para 486 etc.
O fracasso nas vendas do Pentium, o 586, depois da desconfiança de que errava nas contas (fato comprovado por um professor de matemática e, depois, pela própria IBM), deu a falsa ilusão de que o 486 reinaria absoluto por algum tempo e que nossas contas bancárias respirariam aliviadas. Balela.
Vem aí o novo herói da indústria, o P6, ou 686, mais veloz que um avião, mas forte que uma locomotiva, cuja performance, 133 Mhz, chegando a 200 Mhz em 1996 segundo a Intel, é duas vezes superior à do Pentium. O lançamento está previsto para o fim do ano. E saiba que já se espera por volta de 1998 o P7, o primeiro chip resultado da "joint venture" entre a Intel e a Hewlett-Packard.
O futuro? Ainda não. Espera-se para breve a entrada no mercado das placas e programas capazes de reconhecer a voz humana e obedecer seus (nossos) comandos. E não pense que tais placas só reconhecerão o sotaque do Vale do Silício. A Universidade de Michigan está codificando, através de voluntários que ligam e falam com um computador, 24 línguas, inclusive o velho e bom português.
Fui um dos voluntários que ligaram. Posso dizer que é emocionante bater um papo com um computador. Deus deve ter sentido o mesmo depois de sete dias de trampo suado.
Nada a ver o traseiro com as calças, mas me lembro que há 15 anos o governo liberou os impostos de equipamentos de televisão; o que se comprou de câmera e ilha de edição... Floresceu por todo país uma quantidade enorme de produtores de vídeo independente; as mesmas que produzem as campanhas políticas (entendeu a senha?). Pergunta: não poderia fazer o mesmo com os equipamentos de informática, liberar os impostos por um ano e modernizar o país?

MARCELO RUBENS PAIVA está em San Francisco (EUA) como bolsista da Knight Fellowship, na Universidade de Stanford.

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