São Paulo, segunda-feira, 3 de abril de 1995
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Festival aposta no instrumentista brasileiro

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A música instrumental brasileira volta a ser homenageada em grande estilo. Com shows simultâneos, em São Paulo e Rio, começa nesta quarta-feira mais uma edição do festival Heineken Concerts.
O compositor japonês Ryuichi Sakamoto, o cantor senegalês Youssou N'Dour e os jazzistas norte-americanos Wayne Shorter e John Patitucci aparecem entre os convidados internacionais.
Porém, os astros das quatro noites do evento serão mesmo músicos brasileiros: o violoncelista Jaques Morelenbaum, o pianista Guilherme Vergueiro, o percussionista Carlinhos Brown e o violonista e cantor João Bosco.
Na condição de anfitriões, cada um deles convidou o elenco de sua noite. O que resultou na adesão de vários parceiros notáveis, como o cantor Caetano Veloso, o percussionista Paulinho da Costa, o guitarrista Arto Lindsay e o trompetista norte-americano Wallace Roney, entre outros.
A fórmula é exatamente a mesma da bem-sucedida edição de 94, que inscreveu de vez esse festival entre os grandes eventos anuais realizados no país.
Após a discreta estréia (em 92, restrita à cidade paulista de Campinas), o Heineken Concerts transferiu-se para o Rio, em 93. Chegou ao atual formato no ano passado, com a inclusão de São Paulo na programação.
A seguir, os anfitriões de cada uma das noites do festival revelam à Folha o que estão preparando para seus concertos, que acontecem no Palace (em São Paulo) e no Metropolitan (Rio).
Jaques Morelenbaum
"Um show fortemente baseado nas obras de Tom Jobim, Caetano Veloso e Ryuichi Sakamoto." É assim que Jaques Morelenbaum resume o espírito do espetáculo que inaugura o Heineken Concerts paulista, na quarta-feira, e que se repete no Rio, na quinta.
Além de sua mulher, a cantora Paula Morelenbaum, e de Caetano, Jaques decidiu convidar dois parceiros estrangeiros: Sakamoto e o violinista inglês Everton Nelson, com os quais já se apresentou, em trio, no Japão.
Terá ainda a companhia de um poderoso quinteto, formado pelos brasileiros Arthur Maia (contrabaixo), Luiz Brasil (violão), Marcos Suzano, Mingo Araújo e Firmino (percussão).
"Não vamos utilizar a tradicional bateria americana. Com isso eu procuro criar um novo tecido, uma nova textura sonora para um show de música instrumental", explica o líder e arranjador.
Jaques abre a noite com "Ilha Grande", sua única composição incluída no roteiro. "Vamos fazer um passeio histórico-geográfico pelos mistérios e belezas da natureza brasileira", diz, sintetizando a primeira parte do show.
Entre outras, toca "Zanzibar" (de Edu Lobo), "Eu Vim da Bahia" (Gilberto Gil), "Samba do Avião" (Tom Jobim) e "Trilhos Urbanos" (Caetano Veloso).
Com Paula nos vocais, Jaques apresenta em seguida várias composições de Jobim (incluindo "O Boto") e uma de Vinicius de Moraes ("Serenata do Adeus").
Já o trio com Sakamoto e Everton deve interpretar apenas composições do músico japonês, ainda não-definidas. Entre elas, possivelmente estarão os temas dos filmes "O Último Imperador" e "Furyo - Em Nome da Honra".
Jaques e Sakamoto vão continuar no palco para acompanhar Caetano, em "Lindeza", faixa arranjada pelo japonês para o álbum "Circuladô" (em 91).
Depois, Caetano terá seu momento solo. "Não quero nem saber o que ele vai fazer. Quero ouvir só na hora", brinca o anfitrião.
Guilherme Vergueiro
"Todos meus convidados são amigos de outros carnavais", diz o paulista Guilherme Vergueiro, que vive desde a década passada em Los Angeles, nos EUA. "Eu os considero entre os melhores músicos que já conheci", elogia.
Assim, os americanos Wayne Shorter (sax), Wallace Roney (trompete) e o dinamarquês Mads Vinding (baixo) vão se juntar aos brasileiros Raul de Souza (trombone), Robertinho Silva (bateria) e Laudir de Oliveira (percussão).
Segundo o pianista, quase tudo será decidido apenas quando os sete se encontrarem no Brasil, horas antes do show. "Só tenho uma vaga idéia. Quero que todos se sintam bem à vontade e possam se expressar livremente."
No entanto, diferente do que o festival anunciou, a intenção do brasileiro não é comandar uma "noite do instrumental e do jazz".
"Acho bem estranho esse nome, porque as nossas noites vão ser dedicadas ao samba. Estamos em sintonia com a Mangueira", corrige Guilherme, surpreso.
"Exceto por algumas composições minhas, o repertório deve ser todo baseado nos compositores que introduziram o samba no mundo, como Cartola, Nelson Cavaquinho e Assis Valente."
"Essa é uma parte da cultura brasileira com a qual os músicos estrangeiros não têm intimidade. Quando você a apresenta, eles ficam loucos. Tenho certeza de que o público vai se emocionar."

LEIA MAIS sobre o festival à pág. 5-8

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